Folha de S. Paulo


Lava Jato dificulta seguros para quem tem contrato com Petrobras

Marivaldo Oliveira/Futura Press/Folhapress
Peça de teatro em protesto de petroleiros em greve, no saguão da sede da Petrobras em São Paulo, na avenida Paulista
Peça de teatro em protesto de petroleiros em greve, no saguão da sede da Petrobras em São Paulo, na avenida Paulista

O pagamento de sinistros de seguros relacionados à proteção judicial de gestores de empresas subiu 51% nos primeiros cinco meses deste ano como reflexo de processos e prisões de executivos envolvidos na Lava Jato.

Algumas seguradoras passaram a recusar fazer determinadas apólices quando a cobertura envolve contratos com a Petrobras.

Dois tipos de seguro– o chamado D&O (directors and office), que protege o patrimônio de gestores de empresas em processos de responsabilização civil, e o garantia, que garante cumprimento de contratos– registraram saltos no pagamento de sinistros, que ocorre quando a apólice é acionada e o prejuízo, coberto pela seguradora.

De acordo com a Susep (Superintendência Nacional de Seguros Privados), de janeiro a maio, o valor pago pelas seguradoras aos seus clientes somente na modalidade D&O foi de R$ 44,9 milhões. No mesmo período do ano anterior, foram R$ 29,6 milhões.

Em outubro passado, quando a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi tornada pública e executivos de empreiteiras foram presos, o pagamento de sinistros da modalidade D&O teve o primeiro pico e mais que triplicou em relação ao verificado um ano antes. Foram pagos na ocasião R$ 26,5 milhões, contra R$ 7,7 milhões no mesmo mês de 2013.

A alta fez com que o preço das apólices dessa modalidade subisse cerca de 15% e restrições fossem impostas a tomadoras de seguro.

A Folha teve acesso a duas cláusulas de contratos de D&O da americana AIG. O documento informa que se o cliente tiver contratos com a estatal ou se estiver envolvido em algum artigo da nova Lei Anticorrupção (12.846/2013) brasileira, o seguro perderá a cobertura.

A lei considera crime, por exemplo, "prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada".

A reportagem apurou que outras seguradoras estão adotando a prática da AIG. Em nota, AIG informou que, "dependendo de análises técnicas e mercadológicas, são incluídas características especificas nas apólices".

O D&O protege o gestor de arcar, na pessoa física, com litígios, multas ou indenizações provocados por atos de gestão equivocados. Ele vale para a esfera cível– um bloqueio de seu patrimônio pessoal determinado pela Justiça– ou administrativa– uma multa da CVM, por exemplo.

Antes da Lava Jato, o D&O cobria as custas processuais também em ações criminais, até o julgamento final do processo. Em caso de condenação do gestor, o segurado teria que devolver os valores.

O seguro garantia também contratos de engenharia e construção, nos casos em que uma obra atrasa ou quando o fornecedor não cumpre sua parte no acordo.


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