Folha de S. Paulo


Dólar se aproxima de R$ 3,30 e Bolsa cai após corte em meta fiscal

Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro Joaquim Levy (Fazenda) em coletiva de imprensa em Brasília
Ministro Joaquim Levy (Fazenda) em coletiva de imprensa em Brasília

A redução da meta fiscal para quase zero derruba a Bolsa brasileira nesta quinta-feira (23) e provoca uma disparada na cotação do dólar em relação ao real, levando a moeda americana para perto de R$ 3,30 –por ora, maior nível desde março.

Às 15h05 (horário de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 1,91%, para R$ 3,288 na venda. No mesmo horário, o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançava 1,95%, para R$ 3,289. Mais cedo, a divisa chegou a ser cotada em R$ 3,299.

Na Bolsa, o principal índice de ações do mercado nacional, o Ibovespa, operava em baixa de 2,08%, para 49.855 pontos –por ora, menor pontuação em mais de quatro meses. O volume financeiro girava em torno de R$ 3,6 bilhões.

Os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) afirmaram na véspera que a meta de superavit primário foi reduzida de R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB).

O governo também colocou um dispositivo que o permitiria incorrer em deficit de até R$ 17,7 bilhões, se as receitas extraordinárias decepcionarem. "Isso por si só é bastante negativo. A dívida pública só deve se estabilizar em 2018, se tudo der certo. Com isso, aumenta muito o risco de o país perder o grau de investimento", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.

"A revisão das metas sugere que o [ministro Joaquim] Levy está perdendo força na condução da política econômica. O governo não está conseguindo corrigir os erros do passado. Além disso, o mercado de trabalho continua dando sinais de rápida deterioração", completou Rostagno, ressaltando a alta na taxa de desemprego do país anunciada nesta manhã.

De forma geral, o corte na meta fiscal surpreendeu economistas, que viram um pessimismo preocupante (alguns viram exagero) do governo em relação à trajetória das contas públicas nos próximos anos, indicando a possibilidade da existência de algum "esqueleto" ou "pedalada" ainda desconhecida que precisará ser desfeita.

Para Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, a decisão do governo deve ser recebida "com desconfiança pelo mercado, aumentando a percepção de risco com relação ao país".

"O anúncio do governo, com respaldo da presidente, pode se tornar uma 'caixa de Pandora' se os políticos enxergarem a redução da meta como sinal verde para gastar mais", disse Marcelo Carvalho, economista-chefe para a América Latina do banco BNP Paribas, em nota.

Carvalho avalia que a colocação do dispositivo que permite deficit compromete a "cruzada" do ministro Joaquim Levy para estabelecer maior transparência fiscal no país, o que parece ser "uma batalha que o Sr. Levy perdeu".

Além do cenário fiscal brasileiro, a queda maior que a esperada nos novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos também pressiona o câmbio na sessão. O indicador atingiu o menor nível em quatro décadas, com 255 mil solicitações na semana terminada em 18 de julho.

O resultado corrobora a perspectiva de que a economia americana está pronta para o início de um ciclo de elevação dos juros, que estão perto de zero desde 2008 –uma medida para conter os efeitos negativos da crise.

O aperto monetário americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com isso, a menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.

Nesta quinta-feira, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto –operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi totalmente vendida por US$ 293,5 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.

Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.


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