Folha de S. Paulo


Com deficit de R$ 6,2 bilhões, fundo Petros pode ter conta reprovada

Agência Petrobras
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu

O conselho fiscal da Petros (fundo de pensão da Petrobras) vai recomendar nos próximos dias a reprovação das contas de 2014 da fundação, que teve deficit de R$ 6,2 bilhões em seu principal plano de aposentadoria.

O Petros BD (Plano Petros do Sistema Petrobras) tem 23 mil contribuintes e 55 mil aposentados. Eles provavelmente terão que fazer contribuições extras a partir de 2017 para tapar esse rombo.

Isso porque, além dos R$ 6,2 bilhões de 2014, o plano já tinha apresentado um déficit de R$ 2,8 bilhões em 2013. Este é o valor que faltava para o Petros BD conseguir pagar todos os benefícios previstos até o último participante sobrevivente.

Pelas regras do setor, um fundo de pensão deve equacionar as contas ao ter três anos seguidos de deficit ou quando essa conta negativa superar 10% do patrimônio.

Em relatório divulgado a participantes do plano, dois conselheiros eleitos por trabalhadores avaliam que o plano deve ter deficit também neste ano. Serão, portanto, três anos consecutivos.

Internamente, a Petros já criou um grupo de trabalho para analisar propostas e impactos do equacionamento do deficit do fundo.

Além dos descontos em folha de funcionários e aposentados, a própria Petrobras terá que fazer contribuições extras de forma paritária –vai colocar R$ 1 para cada R$ 1 a mais do participante.

CONTAS

A rejeição do balanço pelos conselheiros fiscais se repete há 12 anos. O conselho deliberativo da Petros tem até o próximo dia 30 para avaliar a recomendação.

Nos bastidores, a Petrobras –patrocinadora do plano– e conselheiros independentes disputam o voto na fundação.

Pelo histórico, o conselho deliberativo deve ignorar a recomendação e aprovar as contas. Isso porque o conselho tem três indicados da Petrobras e três dos trabalhadores. Um conselheiro da FUP (Federação Única dos Petroleiros), no entanto, vota alinhado a Petrobras.

Uma fonte que atua na gestão do fundo diz que, se o conselho deliberativo não aprovar a conta, a Petrobras terá que reabrir seu balanço para rever os valores relacionados à Petros.

"Por isso, a pressão é grande", disse.

'MÁ GESTÃO'

Uma parte do deficit do fundo é explicada pelo mau momento do mercado financeiro, o que afetou o desempenho de aplicações do fundo em ações e títulos.

Mas na avaliação de quem acompanha o fundo de perto, a má administração foi responsável por uma parcela desses resultados ruins.

Do deficit do ano passado, R$ 3,5 bilhões têm origem, segundo os conselheiros, em uma dívida da Petrobras com o fundo. De acordo com eles, os administradores da Petros indicados pela estatal evitam cobrá-la para não pressionar mais o caixa da empresa.

Conselheiros se queixam ainda que outros planos geridos pela Petros –alguns deficitários– estão sendo administrativamente financiados pelo plano dos petroleiros de forma indevida.

"O conselho fiscal deverá rejeitar as contas porque diversos planos de benefícios não se sustentam administrativamente", disse Ronaldo Tedesco, conselheiro fiscal eleito por participantes.

Além disso, são questionados investimentos na Sete Brasil, parceira da Petrobras, na exploração do pré-sal, e na Lupatech, que entrou em recuperação extrajudicial por problemas financeiros.

A Polícia Federal abriu neste ano investigação, pela Operação Lava Jato, para apurar irregularidades no fundo de pensão da Petrobras.

OUTRO LADO

A Petros disse que não pode comentar o balanço de 2014 –quando teve deficit de R$ 6,2 bilhões– até ele ser apreciado pelos conselheiros.

Ela informou que "acredita no projeto" em longo prazo da Sete Brasil, parceira da Petrobras na exploração do pré-sal e que tem o fundo de pensão entre os seus acionistas (os fundos Previ e Funcef e os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander também também tem participação).

Procurada, a Petrobras não se manifestou.


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