Folha de S. Paulo


Novo banco dos Brics em Xangai quer desafiar grandes instituições

Alexei Druzhinin/Kremlin/Reuters
Líderes dos Brics em reunião realizada na Rússia no início de julho
Líderes dos Brics em reunião realizada na Rússia no início de julho

O novo banco de desenvolvimento dos Brics foi lançado formalmente em Xangai na terça-feira, com representantes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e quer desafiar instituições como o Banco Mundial, por meio de operações mais ágeis e rápidas.

A inauguração da instituição, cujo nome oficial é Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), surge menos de um mês depois do lançamento do Banco de Desenvolvimento da Infraestrutura Asiática (AIIB), liderado pela China, cujo objetivo também é criar uma instituição paralela de investimento mundial na qual os países em desenvolvimento tenham mais influência.

Ainda que conte com apenas cinco membros fundadores, ante 57 para o AIIB, o NDB terá capital inicial de US$ 100 bilhões, o mesmo que o AIIB. Os cinco países terão cotas votantes em quantidade igual.

"Acreditamos que as necessidades de financiamento da Ásia na área de infraestrutura sejam tão vastas que haja facilmente espaço para dois de nós, e de fato para muito mais instituições", disse KV Kamath, presidente do NDB e antigo executivo do ICICI, o maior banco privado indiano.

Mas ao contrário do AIIB, o NDB não se limitará à Ásia. Excluindo a África do Sul, os quatro países originais do grupo Bric compreendem mais de 40% da população do planeta, um quarto de sua área terrestre e mais de 25% do produto mundial bruto.

Kamath e Lou Jiwei, ministro das Finanças chinês, foram cuidadosos em não criticar o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Asiático e as demais instituições existentes, na terça-feira. Mas deixaram claro que acreditam que o NDB possa melhorar as normas vigentes.

"O banco colocará mais ênfase nas necessidades dos países em desenvolvimento, terá mais respeito pela situação nacional dos países em desenvolvimento e incorporará de maneira mais plena os valores dos países em desenvolvimento", disse Lou. "O desenvolvimento é um processo dinâmico. Não há algo que possa definir como 'as melhores práticas'".

Kamarth prometeu que o banco deixaria de lado "as melhores práticas" e buscaria "as práticas do futuro", acrescentando que o sistema tradicional de financiamento ao desenvolvimento era muitas vezes "rígido, inflexível e lento demais".

"Da perspectiva do país que capta os recursos, esses aspectos são grandes entraves ao crescimento", afirmou. O banco pretende desembolsar seus primeiros empréstimos em abril do ano que vem.

Em mensagem gravada, lorde Nicholas Stern, professor da London School of Economics, recordou o momento em que ele e Joseph Stiglitz, antigo economista chefe do Banco Mundial, conceberam a ideia de um banco dos Brics, em Davos, 2011, como forma de os mercados emergentes com grandes superávits comerciais reciclarem esse dinheiro na forma de investimentos produtivos em seus países.

A ideia foi formalmente discutida pela primeira vez em uma conferência de cúpula do grupo Brics no ano seguinte, e os termos de acordo foram assinados em julho do ano passado.

Os analistas concordam em que a lógica econômica da instituição é sólida, mas alguns alertam que as tensões geopolíticas entre os membros do grupo Brics podem interferir na operação lisa do NDB. Eles apontam que, enquanto o AIIB teve seu lançamento oficial menos de dois anos depois de o presidente chinês Xi Jinping apresentar a proposta original, em outubro de 2013, o banco dos Brics demorou mais de quatro anos para iniciar suas operações.

Uma das causas de atraso foram negociações quanto a onde instalar a sede do banco. Os líderes chineses esperam que sua presença em Xangai ajude a realizar as ambições da cidade quanto a se tornar um centro financeiro mundial até 2020.

Mas Kamath disse que não via sinais de brigas políticas.

"Se você escutou as posições de todos os países membros e depois decidiu o que se pode e o que não se pode fazer, disputas não deverão ser problema", ele disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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