Folha de S. Paulo


Após 6 anos, aeroporto fantasma vale R$ 35 mil

Um dos mais infames capítulos da crise econômica espanhola parecia estar chegando a uma conclusão ridícula na sexta-feira (17), após um investidor chinês apresentar um lance de apenas
¬ 10 mil (R$ 35 mil) no leilão para compra do aeroporto fantasma de Ciudad Real.

O grupo chinês era o único inscrito na concorrência para adquirir o vasto e vazio aeroporto construído por valor estimado em ¬ 1 bilhão na região de Castela-La Mancha, uma área esparsamente povoada da Espanha.

O aeroporto de Ciudad Real ostenta uma pista de pouso de quatro quilômetros de comprimento (suficiente para acomodar o Airbus A380) e um terminal projetado para receber 10 milhões de passageiros por ano.

Desde que foi concluída, em 2009 -um ano após o estouro da bolha de construção que arremessou a Espanha à sua pior recessão das últimas décadas-, a obra vem sendo apontada como um dos piores excessos cometidos pelo país nos anos de crescimento descontrolado.

Ele é visto como exemplo claro da ambição irresponsável que levou os governos locais e regionais a construir museus, hipódromos e arenas esportivas com capacidade superdimensionada.

Uma porta-voz do tribunal local de Ciudad Real, que organizou o leilão, disse que a oferta veio da companhia chinesa Tzaneen International. Mas ela enfatizou que não estava claro se o aeroporto seria vendido à Tzaneen, já que o valor do lance era inferior ao mínimo definido pelo tribunal: de ¬ 40 milhões.

O prazo foi prorrogado até 15 de setembro, na esperança de atrair novas ofertas.

Ciudad Real, de apenas 75 mil habitantes, sempre foi vista como escolha peculiar para a construção de um grande aeroporto. A cidade fica pouco mais de duas horas de carro ao sul de Madri, não tem grande potencial de turismo e suas atividades comerciais são mínimas.

O aeroporto originalmente levava o nome de Dom Quixote, o herói do romance de Miguel de Cervantes.

O nome foi mudado rapidamente, mas a associação entre o projeto e o alucinado cavaleiro se provaria bastante adequada: mesmo quando estava em operações, o aeroporto jamais recebeu mais que poucos voos por semana.

O aeroporto e o terreno que o cerca foram colocados à venda inicialmente em 2013, por ¬ 100 milhões, mas não surgiram interessados.

A operadora CR Aeropuertos faliu em 2010, e todas as tentativas de extrair valor dos ativos remanescentes encontraram problemas.

Se nenhum outro lance for apresentado até 15 de setembro, o tribunal ou voltará a cancelar o leilão ou venderá o aeroporto à Tzaneen.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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