Folha de S. Paulo


Companhias buscam start-ups para inovar

Grandes companhias estão desenvolvendo programas para se aproximar de start-ups (empresas iniciantes de tecnologia).

Essas iniciativas têm como objetivo diversificar estratégias de inovação e manter as companhias próximas de tendências tecnológicas.

Os modelos para o relacionamento são variados: Bradesco e Natura fizeram chamadas públicas para que empreendedores com quem pudessem fazer negócios apresentassem seus produtos.

Telefônica e Itaú decidiram se aproximar das empresas fisicamente. A primeira iniciou, em 2012, unidade da aceleradora de negócios Wayra (empresa responsável por programa que oferece investimento, consultoria e escritório, em troca de participação acionária) em São Paulo.

Já o banco lançará, em setembro, prédio em São Paulo em que ficarão abrigadas até 50 start-ups.

Um dos principais motivos para que grandes companhias busquem as iniciantes é a possibilidade de pensar a inovação em um horizonte de longo prazo, afirma Carlos Pessoa, diretor da Wayra.

"A Telefônica tem sua área de inovação. Mas ela tem de estar atenta às necessidades mais imediatas do grupo. Queremos também pessoas de fora, sem as mesmas pressões por objetivos e metas, para ver que oportunidades são descobertas por elas."

As dez companhias que foram escolhidas pelo Bradesco em 2014 para participar do InovaBRA têm a ajuda da equipe técnica e de executivos do banco para desenvolver seus produtos.

A relação pode terminar de diferentes maneiras, de acordo com a avaliação que será feita por comitê do banco. O Bradesco pode decidir por uma compra de ações da empresa por seu fundo de investimento, se tornar cliente da start-up ou passar a oferecer serviços dela a seus clientes.

INOVAÇÃO BILIONÁRIA

Segundo Bruno Rondani, organizador do movimento 100 Open Startups, a valorização dos projetos de start-ups por grandes empresas se insere na tendência de compras bilionárias de companhias iniciantes, como Instagram e WhatsApp, adquiridos pelo Facebook.

Grandes empresas também reconhecem dificuldades que enfrentam quando atuam isoladas em seu processo interno de inovação, como o medo de que novos produtos e serviços desenvolvidos por ela própria roubem mercado de seus produtos atuais, explica.

O programa faz uma ponte entre demandas do mercado percebidas por grandes empresas e novas companhias. Até o momento, 43 empresas apoiam a edição atual, que selecionará cem start-ups que vão se apresentar a executivos e investidores em 2016.

ADAPTAÇÃO

O processo de aproximação da Natura com o mercado de start-ups vem sendo gradual. Em 2014, em parceria com a Aceleratech (aceleradora de negócios paulistana), a empresa selecionou cinco start-ups com soluções para a realização de apresentações internas.

A partir desse projeto, surgiu um programa-piloto para uso da plataforma de ensino virtual da empresa Já Entendi para treinamento de vendedores da Natura, diz Luciana Hashiba, gerente de inovação da empresa.

Neste ano, a Natura lançou em abril chamada pública em incubadoras e parques tecnológicos ligados à Anprotec (associação nacional que reúne essas instituições). O objetivo era receber projetos de companhias de diferentes setores que pudessem se relacionar com a empresa. Foram recebidos 150, metade ligada à tecnologia da informação.

Atualmente, estão sendo analisados e apresentados internamente para verificar o interesse nas iniciativas.

Para Hashiba, o maior desafio de uma grande empresa que se aproxima de iniciantes é encontrar formas de se relacionar que, ao mesmo tempo, atendam necessidades das maiores, como gestão de riscos e análises criteriosas, e consigam manter a velocidade das novas empresas.


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