Folha de S. Paulo


Disney anuncia projeto e atrações de novo parque temático na China

A Walt Disney Company anunciou nesta quarta-feira (15) o projeto e as atrações de um novo megacomplexo de entretenimento que deve ser inaugurado em Xangai, na China, no segundo trimestre do ano que vem —o primeiro parque temático da China continental.

A companhia anunciou que estava concluindo o trabalho em uma área de 3,8 quilômetros quadrados que abrigará o Shanghai Disney Resort, com seis áreas temáticas, entre as quais uma dedicada ao megasucesso cinematográfico "Piratas do Caribe", bem como locais para espetáculos ao vivo, um teatro ao estilo da Broadway, dois hotéis e "o mais alto, maior e mais interativo castelo em qualquer dos parques temáticos da Disney".

"Estamos tomando tudo que aprendemos em nossas seis décadas de exceder as expectativas —bem como nossa inovação incansável e famosa criatividade— para criar um lugar verdadeiramente mágico, tanto autenticamente Disney quanto distintamente chinês", disse Robert Iger, o presidente-executivo e do conselho da Disney, em entrevista coletiva em Xangai.

A Disneylândia Xangai representa uma enorme aposta na mudança da abordagem da China quanto ao entretenimento ocidentalizado e as viagens de turismo. Iger disse que a companhia considera o complexo de US$ 5,5 bilhões como tão transformador para a empresa quanto o estabelecimento do Disney World, na Flórida, foi nos anos 70.

O objetivo da Disney é criar um propulsor que conduza a demanda por diversos produtos da Disney na China: brinquedos, roupas, mobília, downloads de filmes e videogames. A Disney tipicamente depende da criação de novos canais de TV Disney a fim de promover sua marca no exterior, mas as restrições da China à mídia estrangeira tornaram impossível essa abordagem.

Mas a Disney está caminhando com cautela. A China aprovou o complexo de lazer apenas depois de a Disney prometer que ele refletiria a cultura do país. Para tanto, a mensagem da Disney foi cuidadosamente administrada, com os executivos na sede da empresa em Burbank, Califórnia, se referindo repetidamente ao parque como "autenticamente Disney e distintamente chinês".

A Disney tentou manter segredo sobre os planos específicos do seu complexo de lazer em Xangai, em parte porque deseja controlar a mensagem de marketing e em parte pelo temor de que parques chineses produzam atrações copiadas. Essas preocupações foram alimentadas este mês quando um filme de animação chinês chamado "Autobots" foi divulgado por meio de imagens quase idênticas às dos personagens do filme "Cars", da Pixar, uma subsidiária da Disney.

A despeito dos esforços da Disney, porém, os planos do parque estão vazando há meses para blogs de fãs. Uma decisão da Disney que gerou interesse especial antes do anúncio da quarta-feira: instalar uma grande atração tendo por tema o filme "Tron", no parque. "Tron: Legacy" foi lançado em 2010 na China, mas arrecadou apenas US$ 19 milhões no país. A Disney recentemente decidiu que não produziria uma continuação do filme.

Em comparação, o mais recente filme da série "Piratas do Caribe", com o subtítulo ""Navegando em Águas Misteriosas", arrecadou US$ 70 milhões na China em 2011. A forte resposta da audiência foi um dos motivos para que a Disney se sentisse confortável em levar adiante os planos para uma área mais ampla com o tema "Piratas do Caribe".

A Disney conhece muito bem o lado negativo de esforços para economizar nos brinquedos e atrações. Uma Disneylândia em formato reduzido, inaugurada em Hong Kong em 2005, enfrentou prejuízos em seus primeiros seis anos de operação, em parte porque o público foi inferior ao esperado. Os visitantes e a mídia local criticaram o projeto afirmando que não havia muito que fazer no parque.

A Disney e o governo municipal de Hong Kong, que controla 52% do parque, desde então investiram mais de US$ 1 bilhão em uma expansão do complexo, que deve ser concluída em 2017. No ano passado, a Hong Kong Disneyland atraiu 7,5 milhões de pessoas —o que representa pouca mudança ante 2013— e gerou US$ 42,8 milhões em lucros líquidos, um avanço de 36% ante o ano anterior, segundo a Disney.

No anúncio da quarta-feira, a Disney disse que o novo complexo teria mais tecnologia e atrações originais do que os parques temáticos anteriores, incluindo muitos traços chineses, incorporados a mosaicos, brindes, apresentações e até mesmo ao imenso castelo.

VÍDEO MOSTRA PROJETO DO PARQUE DA DISNEY NA CHINA:

Panorama do projeto do Shangai Disney Resort

Algumas das mais emblemáticas atrações da Disney, entre as quais a Space Mountain, It's a Small World e a Star Tours, uma jornada temática pelo espaço com base na série "Guerra nas Estrelas", não constarão das atrações na inauguração do parque.

Talvez surpreendentemente, "Guerra nas Estrelas" e os filmes de super-heróis da Marvel estarão representados na abertura não por brinquedos mas por personagens fantasiados que receberão os visitantes, e por uma área de desenho de quadrinhos e uma experiência cinematográfica. Quando o parque for inaugurado, seu teatro em modelo Broadway, o Walt Disney Grand Theatre, terá a estreia mundial de uma versão em mandarim de "O Rei Leão", da Disney.

A Disneylândia de Xangai provavelmente confiará menos em visitas repetidas dos moradores locais e em passes anuais do que é o caso no parque de Hong Kong. A Disney estima que 330 milhões de pessoas vivam a menos de três horas de carro de seu complexo em Xangai, que fica no distrito de Pudong.

A Disney controla 43% da Disneylândia de Xangai, e o restante pertence à Shanghai Shendi, uma entidade estatal chinesa; o controle operacional fica com o Disney, porém, e ela detém 70% da holding criada com a Shendi para operar o parque.

No começo do ano, a Disney anunciou que adiaria a abertura do parque para o segundo trimestre de 2016, e a empresa e seu parceiro chinês investiriam US$ 800 milhões a mais para aumentar o número de atrações que estariam disponíveis no dia da inauguração, o que levaria o investimento total a US$ 5,5 bilhões.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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