Folha de S. Paulo


Sem BNDES, obras de infraestrutura terão de atrair recurso do mercado

Com recursos cada vez mais escassos do BNDES, os poucos projetos de infraestrutura que saíram do papel neste ano foram financiados por meio da venda de títulos a fundos de pensão, investidores individuais e estrangeiros do mercado de capitais, como ocorre no mundo todo.

São investidores que, no Brasil, aplicam praticamente sem risco na dívida do governo, com juros que passam de 14% ao ano, e que exigem retorno acima disso para encarar o risco de atrasos nas obras, licenças ambientais que não saem, além de problemas de engenharia e de execução de várias naturezas.

INFRAESTRUTURA
Plano de investimento interrompe marasmo

Para viabilizar esses financiamentos, o governo desistiu de "tabelar" o lucro dos empreendimentos e aceitou elevar a rentabilidade das concessões. Também deu isenção fiscal para os investidores pessoa física e estrangeiros que aplicarem em títulos de dívida associados a obras de infraestrutura –as debêntures incentivadas.

Um desses projetos financiados pelo mercado de capitais foi a dragagem do canal Piaçaguera, em Cubatão (SP), que dá acesso aos portos privados da Usiminas e da VLI (Valor da Logística Integrada), empresa controlada pela Vale, a canadense Brookfield, a japonesa Mitsui e o fundo FI-FGTS.

Orçada em cerca de R$ 650 milhões, a dragagem permitirá a entrada de navios de grande porte nos dois portos. A Usiminas decidiu pagar sua parte com recursos próprios. Já a VLI desenvolveu uma engenharia financeira para fazer as tarifas que serão pagas pelos navios que passarem pelo canal, daqui dois anos, bancarem sua parte na obra.

O financiamento foi feito por meio da captação, em março, de R$ 320,9 milhões em debêntures incentivadas emitidas pela Salus, uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) criada para desenvolver o projeto.

Ao todo, as debêntures incentivadas já captaram R$ 11,2 bilhões desde quando foram criadas, em 2011.

A dragagem é uma parte pequena do projeto de mais de R$ 2,2 bilhões da VLI para seu porto privado no litoral paulista, que será financiado por um mix de emissão de dívida, empréstimo no BNDES, e de recursos dos acionistas.

A expectativa é elevar a capacidade de escoamento de 2,6 milhões para 14,7 milhões de toneladas por ano de produtos como enxofre, fertilizantes, amônia, rocha asfáltica, grãos e açúcar.

Editoria de Arte / Folhapress

ISENÇÃO FISCAL

Pela debênture da Salus, o investidor pessoa física receberá o equivalente ao que ganharia se aplicasse no título do governo Tesouro IPCA (antiga NTN-B) com vencimento em 2022 mais um prêmio de 0,5 ponto percentual, líquido de IR –algo como 15,46% neste ano (113% do CDI).

O investidor institucional, caso dos fundos de pensão e de investimento, no entanto, receberá menos porque tem IR de 15% –cerca de 13,14% líquido em 2015, taxa não muito acima do que têm acesso comprando título público.

Para equilibrar a conta, a Anbima (associação do mercado de capitais) pleiteia que o governo estenda a isenção fiscal também para os institucionais, que têm capacidade maior do que a pessoa física para financiar o setor.


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