Folha de S. Paulo


Diante de pergunta complexa, cada grego cria seu próprio plebiscito

A complexidade do tema e a falta de tempo para entender as negociações com os credores levaram os gregos a interpretar cada um à sua maneira o plebiscito deste domingo (5).

Para alguns, a votação, convocada há uma semana pelo governo, é uma avaliação sobre a gestão e o comportamento do primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, eleito em janeiro para o cargo. A votação ocorre até 19h, horário local (13h, horário de Brasília).

Para outros, trata-se de decidir sobre a permanência na zona do euro, embora, oficialmente, isso não esteja em discussão no momento.

A única certeza é que, além de uma disputa dividida, ninguém arrisca dizer o que vai ocorrer com a Grécia a partir desta segunda (6), seja qual for o resultado.

Os gregos receberam apenas uma cédula com a seguinte pergunta a responder: "Deve ser aceito o acordo submetido por CE (Conselho Europeu), BCE e FMI para o Eurogrupo no dia 25 de junho, que consiste em duas partes que formam sua proposta completa?". Eles colocam o voto 'sim´ou ´não´ num envelope e o depositam na urna.

Entenda a crise grega

Sem ter lido os detalhes das propostas, a servidora Rodanthi Polomarkaki, 44, votou pelo 'sim'. "Para ser honesta, só acompanhei pela televisão, desconheço os detalhes, mas acredito que o 'sim´ é a coisa certa a fazer", contou.

Logo depois dela, foi a vez de Nikos Sapralis, 65, dentista aposentado, votar. Optou pelo 'não': "Precisamos mandar uma mensagem para Europa de que tem de conversar conosco também no campo político, não só econômico, onde somos mais frágeis".

Desempregada, a professora Ifi Papadou, 35, diz que reuniu a família, incluindo a mãe de 73 anos, para explicar as propostas. Ela não revela a opção na urna, mas sinaliza a escolha pelo 'não'. "O que eu posso dizer é que os gregos não estão satisfeitos com a postura do bloco europeu nas negociações", disse.

As discussões nos cafés e seções de votação da capital Atenas raramente passam pela complexa proposta negociada com os credores. As conversas foram rompidas depois que a Grécia se recusou a assumir compromissos fiscais exigidos pela outra parte.

"Nem que os gregos tivessem dois meses para discutir os detalhes da proposta seria possível para um leigo entender algo tão técnico", disse o economista Stefanos Gavalas, que trabalha no mercado financeiro em Atenas.

Uma vitória do ´sim´deve aumentar a pressão da oposição e de setores da população grega pela saída de Alexis Tsipras do cargo.

"Votei 'sim' porque acredito que é melhor para a Grécia permanecer na zona do euro. E acho que, se o 'sim' ganhar, Tsipras deveria deixar o governo imediatamente", afirmou Paillette Palaeologou, 46, arquiteta que trabalha para a indústria naval em Paris e viajou a Atenas no fim de semana para votar.

O discurso é compartilhado pelo médico aposentado Spyros Triantafyllidis, 64, que levou a mãe, de 94 anos, para votar pelo "sim". "Se eu tiver que escolher entre ser um remador no barco de Tsipras por mares desconhecidos ou levar meu barco nas águas turvas da União Europeia, certamente fico com a segunda opção", disse.

Aos 86 anos, o aposentado Kostas Supalikas chegou de bengala e acompanhado por uma enfermeira para votar. Sem poder subir as escadas da escola, votou do pátio, com a ajuda de uma mesária que levou até ele a cédula e o envelope para marcar o voto. E Supalikas pediu: "Quero votar 'sim', por favor".

Os sentimentos que parecem mover os gregos que votam ´sim´são o medo da incerteza que se abriria com o "não". "Votei 'sim' pelo medo do que pode acontecer nos próximos dias se recusarmos a proposta", disse o estudante Konstantinos Karas, 22, ao sair de uma seção eleitoral em Kolonaki, bairro de classe média alta em Atenas.

Ao todo, 9,9 milhões de gregos estavam aptos a participar do plebiscito neste domingo, que vai até as 19h locais (13h, no horário de Brasília). Os primeiros resultados oficiais devem ser divulgados a partir das 21h.

Grécia


Endereço da página:

Links no texto: