Folha de S. Paulo


Trabalhador é morto por robô em fábrica da Volkswagen na Alemanha

Um técnico foi morto por um robô em uma fábrica da Volkswagen perto de Kassel, Alemanha, na quarta-feira (1), em um raro acidente que traz à tona preocupações com a expansão da automação e seu impacto sobre o emprego.

O prestador de serviços, de 21 anos, estava trabalhando com um colega para instalar a máquina quando foi atingido no peito pelo equipamento e comprimido contra uma placa metálica. Ele veio a morrer mais tarde por conta dos ferimentos sofridos.

O caso foi retuitado pela jornalista do "Financial Times" Sarah O'Connor, e virou meme à medida que internautas associaram o incidente a uma guerra entre humanos e robôs, em referência à série de filmes "Exterminador do Futuro".

Na obra, Sarah Connor é o nome da mãe do líder da resistência contra as máquinas, John Connor. Piadas sobre uma hecatombe robótica fizeram com que o post fosse retuitado mais de 7.000 vezes.

Em tuítes subsequentes, O'Connor afirmou que nunca tinha assistido o filme, e destacou "uma pessoa morreu, não vamos esquecer".

Piada

Sarah O'Connor

Sarah O'Connor

PREOCUPAÇÃO É COM EMPREGOS

A fatalidade surge em um momento de preocupação cada vez mais intensa sobre os efeitos da automação, o que inclui temores de longo prazo sobre a capacidade humana de controlar os robôs quando estes se tornarem mais inteligentes que as pessoas.

No entanto, especialistas dizem que o acidente na Volkswagen parece ter tido mais em comum com o tipo de acidente industrial que vem ocorrendo há anos do que com o novo tipo de robótica que vem conquistando manchetes.

As mortes causadas por equipamentos automatizados começaram com um acidente em uma linha de montagem de automóveis nos anos 70, disse Paul Saffo, futurologista do Vale do Silício.

"Essa não foi a primeira vez —mas o momento importa mais que tudo", ele disse, já que o acidente ocorreu em um período no qual "as pessoas estão começando a se preocupar com 'robôs que roubam nossos empregos'".

Fatalidades relacionadas a robôs são raridade em fábricas ocidentais, porque os robôs pesados são mantidos em gaiolas de segurança a fim de prevenir contatos acidentais com seres humanos.

No incidente em questão, o técnico estava dentro da gaiola de segurança quando o acidente ocorreu.

Um segundo trabalhador estava do lado de fora e escapou ileso. A Volkswagen afirmou que o robô não sofreu um defeito técnico. A promotoria pública alemã iniciou uma investigação para determinar como o acidente ocorreu.

A Volkswagen informou que a máquina não era parte da nova geração de robôs leves colaborativos que as montadoras de automóveis estão começando a instalar para trabalhar ao lado de operários nas linhas de montagem.

O índice de fatalidades na indústria fica bem abaixo da média da economia como um todo, e vem caindo com o avanço da automação, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

TRABALHAR EM UM BAR É MAIS ARRISCADO

Nos Estados Unidos, em 2013, houve 2,1 acidentes fatais por milhão de horas trabalhadas na indústria, ante 2,7 em 2006. No setor de equipamento de transporte, o número de fatalidades foi de apenas 0,9 por milhão de horas trabalhadas, de acordo com dados do governo.

No país, trabalhar em um bar é cerca de oito vezes mais perigoso do que trabalhar na indústria. Nos bares, o índice de fatalidades é de 16,4 mortes por milhão de horas trabalhadas.

A indústria automobilística tem, de longe, a maior densidade de robôs, mas a automação vem crescendo rapidamente em outros setores, como a eletrônica e a saúde, com a queda de custos e o aumento da capacidade das máquinas.

Os robôs colaborativos não operam dentro de gaiolas de segurança, mas sua força e velocidade podem ser limitadas pela forma com que são construídos.

Eles também podem contar com sensores que detectam os movimentos humanos. Alguns foram projetados para parar quando um ser humano se aproxima demais.

A Volkswagen anunciou no ano passado que planejava usar mais robôs para enfrentar a escassez de novos operários, dada a aposentadoria dos trabalhadores da geração baby boom (os nascidos entre 1946 e 1964) nos próximos anos.

A companhia informou que os novos robôs realizaram as tarefas monótonas, enquanto os seres humanos se concentrariam nas funções que requerem mais capacitação.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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