Folha de S. Paulo


Grécia propõe restringir aposentadoria e aumentar impostos

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, apresentou neste domingo propostas para um acordo financeiro com credores para evitar o calote. Ele conversou por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente francês, François Hollande, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Entre as concessões que devem ser feitas pelo governo grego estão três tipos de taxa do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), em 6,5%, 13% e 23%, propostos anteriormente e já negados pelas instituições credoras.

No entanto, Atenas estaria disposta desta vez a mudar a incidência do tributo sobre alguns alimentos e o setor hoteleiro para aumentar as receitas fiscais, como pedem os credores –Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Quanto à previdência, o governo estudaria abolir as aposentadorias antecipadas a partir do próximo ano, o que geraria uma economia de 200 milhões de euros, assim como reduzir as pensões complementares mais altas.

A Grécia precisa pagar 1,6 bilhão de euros ao FMI (Fundo Monetário Internacional), mas afirma que sem os € 7,2 bilhões da última parcela do socorro de € 240 bilhões recebido nos últimos cinco anos de credores, não terá como honrar a dívida.

"O primeiro-ministro apresentou aos três líderes a proposta grega para um acordo mutuamente beneficente, que dê uma solução definitiva e não um adiamento para o problema", informou a presidência grega em comunicado.

Após horas de reuniões, o ministro de Finanças grego, Yanis Varoufakis, afirmou que o país caminha para um acordo. "Sempre, nós estamos caminhando para um acordo", disse a jornalistas.

A conversa com líderes europeus ocorre um dia antes da reunião de cúpula de emergência de líderes da zona do euro, marcada para esta segunda-feira, para tentar evitar um "default" da Grécia.

Louisa Gouliamaki/AFP
Primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, no Parlamento, em Atenas
Primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, no Parlamento, em Atenas

Credores da Grécia devem chegar a um acordo na segunda-feira para evitar o calote grego estendendo o resgate grego em seis meses, segundo o jornal The Guardian. Um novo aporte de 18 bilhões de euros poderia ser feito e a dívida poderia ser renegociada.

Mas uma fonte reforçou que o acordo só será possível se Tsipras fizer os ajustes que estão sendo exigidos por credores, e que o primeiro-ministro tem relutado em fazer desde que chegou ao poder, há cinco meses.

Não está claro se a proposta apresentada pela Grécia neste domingo será suficiente.

Depois de meses de disputas e uma corrida bancária que levou ao saque de bilhões de euros nos bancos gregos na última semana, o governo esquerdista de Tsipras sinalizou que está disposto a fazer concessões a fim de desbloquear 7,2 bilhões de euros de um pacote de resgate.

Em uma entrevista ao jornal "Ethnos" publicada hoje, ministro de Estado, Nikos Pappas, se mostrou convencido de que chegará a um acordo "respeitando leis, a democracia e a coesão social".

O ministro afirmou que a Grécia procura uma solução que permita o retorno do crescimento dentro do euro, sem repetir os erros do passado.

"Não pedimos só um acordo, queremos uma solução. Para que haja um acordo, ele deve beneficiar o povo. A restauração dos direitos trabalhistas, a oposição aos cortes dos salários e das pensões, nossa libertação da política de austeridade catastrófica e um tratamento integral da dívida foram e seguem sendo nossos objetivos", completou Pappas.

Editoria de Arte/Folhapress

SEM CHANTAGEM

Para que o acordo funcione, Tsipras precisará de uma proposta que seja aceita pelo seu partido ou então poderá ser forçado a convocar um referendo ou eleições antecipadas para garantir um mandato para um acordo.

O partido Syriza, de Tsipras, programou um comício neste domingo para enviar uma "mensagem barulhenta de resistência" contra as exigências de novos cortes e aumento de impostos em um país atingido por anos de recessão.

Em meio às medidas de austeridade impostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), União europeia e Banco Central Europeu em dois pacotes de resgate, a economia grega recuou 25%, salários e aposentadorias foram cortadas e um em cada quatro trabalhadores gregos está desempregado.

O governo grego argumenta que a austeridade imposta por países do sul da Europa pioraram a crise do país.

"A democracia não pode sofrer chantagem e a dignidade não pode ser negociada", disse o partido em um comunicado oficial anunciando o protesto.

Mas na Alemanha, o país que desembolsou mais dinheiro nos resgates gregos, há pouca chance de negociação. A chanceler alemã, Angela Merkel, está pressionada a não ceder às demandas gregas, mesmo que isso signifique que o país tenha que deixar a zona do euro.

ATO REÚNE 7.000 EM ATENAS, DIZ POLÍCIA

Cerca de 7.000 gregos, segundo as contas da polícia, se manifestaram neste domingo no centro de Atenas para apoiar o governo nas negociações com as instituições credoras e exigir o fim das políticas de austeridade.

A manifestação foi convocada pelo partido governante Syriza na praça de Syntagma, sede do parlamento.

Dali alguns manifestantes marcharam pacificamente até o pátio dianteiro do parlamento, situado a poucos metros, sem que a polícia lhes impedisse a passagem.

"Fim da austeridade", "Sim à saída da Europa", "Não queremos um novo resgate" e "A democracia não pode ser chantageada" foram algumas das mensagens escritas nos cartazes dos manifestantes.

Entre os participantes, que também levavam algumas bandeiras da Grécia e do Syriza, e entre os quais havia alguns membros do governo como o ministro de Reconstrução Produtiva, Panayotis Lafazanis, reinava um ambiente festivo, como já havia acontecido na manifestação de quatro dias atrás, convocada também para exigir o fim da austeridade.


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