Folha de S. Paulo


'Rei da soja' dá lugar a gestão profissional das lavouras

Sérrgio Tomisaki - 8.set.1985/Folhapress
Olacyr de Moraes em plantação de trigo em Bela Vista (MS), em 1985; 'rei da soja' deu lugar a gestão profissional
Olacyr de Moraes em plantação no MS, em 1985; 'rei da soja' deu lugar a gestão profissional

A lavoura que transformou Olacyr de Moraes, morto na semana passada, no rei da soja em meados dos anos 1970 não é mais a mesma. A área cultivada no país saiu dos 6,9 milhões de hectares em 1976 para os atuais 31,9 milhões.

A produção saltou de 12 milhões para 96 milhões de toneladas de soja, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Os transgênicos passaram a dominar o campo, e os produtores, safra após safra, escolhem a melhor semente para o solo e o clima de sua propriedade entre uma farta variedade de tecnologias.

A comercialização também mudou: com acesso à informação e a armazéns, a venda é estrategicamente planejada, visando melhores preços.

Quando se fala na gestão de milhares de hectares no cerrado, as decisões não são mais tomadas pelo produtor pessoa física. O agricultor deixou o seu CPF de lado e criou empresas com gestão profissionalizada, ações em Bolsa, equipe de engenheiros e gerentes no campo.

Editoria de Arte/Folhapress

Não faz mais sentido, portanto, falar em um novo rei da soja. Eraí Maggi, que é considerado o maior produtor individual do país e até poderia assumir a alcunha, formou o grupo Bom Futuro para administrar sua produção no início dos anos 2000 —a família está na atividade desde 1964.

Ele evita falar em números e, rindo, diz não comparar sua produção com a do vizinho. Sabe-se que cultivou mais de 400 mil hectares na safra 2014/15 e esperava colher 1 milhão de toneladas de soja.

"Hoje não é mais só plantar e colher. Estamos pensando na sustentabilidade, cuidando da comercialização, assegurando em Bolsa o preço de venda dos produtos dois anos à frente, travando câmbio, contratando empréstimos no mercado externo para a lavoura", afirma.

Além do Bom Futuro, outros grandes grupos cultivam áreas que ultrapassam os milhares de hectares em grãos. Na lista estão a SLC Agrícola e a Vanguarda Agro, as duas com ações negociadas em Bolsa, e o grupo Bom Jesus.

Há ainda a Amaggi: empresa do senador Blairo Maggi (PR-MT), primo de Eraí, que, além da produção, tem indústria esmagadora de soja, trading, investimentos em logística e presença global.

Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT (associação dos produtores de soja e de milho do Estado), diz que a profissionalização é reflexo de crises anteriores, que fizeram com que alguns agricultores abandonassem o setor. Dos que sobreviveram, parte decidiu formar empresas.

"O agronegócio ficou muito profissional pela escala, porque tem que buscar alta produtividade no campo, mas com baixo custo", diz Arlindo Moura, diretor-presidente da Vanguarda.

A produtividade a custo controlado é peça-chave para garantir a segunda colocação do país como produtor e exportador mundial de soja. Em 2014, o complexo (grão, farelo e óleo) foi o produto mais exportado, respondendo por 14% da receita total.


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