Folha de S. Paulo


Governo vê meta de superavit distante e deve discutir redução

A redução da meta fiscal deste ano, considerada pela própria equipe econômica como quase impossível de ser cumprida, deve ser levada a debate com Dilma Rousseff na próxima semana.

Segundo assessores, superada a questão sobre o fator previdenciário e depois que for votada a última medida do ajuste fiscal, o governo precisa discutir como ficará a meta neste ano de economizar R$ 66,3 bilhões, equivalente a 1,1% do PIB, para pagamento da dívida pública.

Um assessor palaciano disse à Folha que uma ala do governo defende discutir o assunto com a presidente já na próxima semana.

Evaristo Sá/AFP
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que quer postergar decisão sobre redução da meta
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que quer postergar decisão sobre redução da meta

Segundo ele, já está praticamente provado que, diante da impossibilidade política de aprovar aumento de impostos que gerem receita expressiva, como a volta da CPMF, não há outra saída a não ser reduzir a meta de superavit primário.

O único caminho disponível, diz, seria aumentar o corte de gastos, mas isso paralisaria o governo e geraria uma "gritaria" enorme na Esplanada dos Ministérios, freando ainda mais a economia.

"Não estamos querendo reduzir os cortes já feitos, mas evitar que eles sejam elevados. Não há espaço", diz.

A ala política do governo Dilma defende reduzir a meta de superavit deste ano de 1,1% para 0,6% do PIB. A de 2016, de 2% para 1%. E a de 2017, de 2% para 1,5%. Números que não agradam ao ministro Joaquim Levy (Fazenda).

No momento, ele prefere não debater oficialmente o tema e vai trabalhar para postergar a discussão. Internamente, porém, sua equipe avalia como factível reduzir para 0,8% a meta deste ano, para 1,5% a do ano que vem e manter em 2% a de 2017.

Antes de debater o tema com Dilma, Levy quer elaborar uma lista de medidas que poderão gerar receita extra neste ano que não sejam aumento de impostos –como acelerar cobranças judiciais.

REBAIXAMENTO

O maior temor da equipe econômica é passar sinal de descontrole fiscal que leve à perda do grau de investimento do país dado pelas agências de classificação de risco.

Levy, contudo, recebeu uma boa notícia da Standard & Poor's, agência que enquadra o Brasil na última nota antes da perda do grau de investimento. Em mensagem ao ministro, ela informou que, se o país atingir uma meta fiscal de 0,8%, já será positivo.

Na avaliação da S&P, o mais importante é que o governo está comprometido com recuperação da credibilidade fiscal. Além disso, vê com bons olhos o trabalho do BC de reduzir a inflação.

Na Moody's, a sinalização é diferente. Ela indicou que deve rebaixar a nota do país por causa do cenário mais negativo na área fiscal.

O rebaixamento, no entanto, não faria o país perder o selo de bom pagador para essa agência, pois o país encontra-se no penúltimo nível do grau de investimento.

A Fitch também põe o Brasil dois degraus acima do nível mínimo de investimento.


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