Folha de S. Paulo


Com entrada de capital estrangeiro, hospitais cobiçam selo de alto padrão

Uma das maiores mudanças ocorridas no setor de hospitais no Brasil, a liberação para a entrada de capital estrangeiro, sancionada em janeiro, elevou a procura por acreditação, uma espécie de selo para chancelar a instituição que opera com altos padrões de qualidade.

Dentre os mais de 6.000 hospitais do país, menos de 5% têm algum tipo de acreditação –um desafio para a atração de capital estrangeiro, segundo Francisco Balestrin, presidente da Anahp (associação de hospitais privados). Nos EUA, essa proporção é de 90%.

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"Instituições que querem se preparar para o capital estrangeiro estão buscando acreditações internacionais. É um processo que pode levar mais de dois anos e os hospitais começaram a fazer agora", diz Balestrin.

Segundo a Anahp, dez hospitais iniciaram processos nas entidades de acreditação CBA e Accreditation Canada International desde janeiro.

A meta, explica Balestrin, é atingir patamares compatíveis com os altos padrões de profissionalismo exigidos pelos investidores estrangeiros, como modelos de governança e de gestão, organização de processos, protocolos e capacitação de funcionários.

ANÁLISE DO ALVO

Para o especialista Daniel Kalansky, do Motta, Fernandes Rocha Advogados, a situação de instituições disponíveis para negócios no Brasil ainda é pouco homogênea.

"Há boas oportunidades de consolidação, mas cada hospital tem situação muito diferente dos outros. Alguns têm governança, outros, não. Há casos de hospitais com muitos sócios, em que a opção por fazer a operação societária não é unânime", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo Kalansky, ao observar a lucratividade das instituições disponíveis, os fundos interessados analisam a relação com planos de saúde.

"Alguns hospitais não têm contas auditadas nem conselho de administração, e estão concentrados num único plano de saúde. Se um hospital tiver mais de 60% de seus atendimentos num plano, poderá até ter bom faturamento, mas a lucratividade será ruim", avalia.

A expectativa é que inicialmente os negócios se direcionem a aquisições, diz Walter Cintra Ferreira Junior, coordenador do curso de administração hospitalar da FGV.

"Neste momento veremos mais investimentos em estruturas já existentes do que em expansões, até para entenderem como o mercado brasileiro funciona", afirma.

Em maio, o fundo do governo de Cingapura anunciou a compra de fatia da Rede D'Or São Luiz. Um mês antes, o fundo americano Carlyle informou investimento bilionário na empresa. (joana cunha e renata agostini)


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