Folha de S. Paulo


Ásia dispara, e Brasil perde corrida pela inovação

O Brasil investe 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em pesquisa e desenvolvimento (P&D), abaixo da média mundial, de 2%.

Essa é a estimativa mais recente da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). A referência, para 2013, inclui empresas (0,6% do PIB) e governo (0,7%).

Na comparação internacional, chama a atenção o descolamento do Brasil em relação à China e à Coreia do Sul.

INOVAÇÃO
Desnvolvimento aposta em análise dados

"Nos anos 1980, os três estavam no mesmo patamar de investimento em relação ao PIB", disse Luis Fernandes, presidente da Finep (agência do MCTI) no 6º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado no mês passado, em São Paulo.

Segundo os dados consolidados mais recentes, com 1,98% em 2012, a China se aproximou do investimento médio global. A Coreia do Sul somou 4,3%.

A maior presença das empresas em inovação ajuda a explicar a diferença entre os investimentos asiáticos e o brasileiro. Na China e na Coreia do Sul, o setor privado representou mais de 75% dos recursos em P&D. No Brasil, essa fatia foi de 44% em 2012, segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Em entrevista à Folha, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, disse que o inventário que a pasta elabora sobre os obstáculos à pesquisa no país incluirá pontos que obstruem mais recursos da iniciativa privada para a inovação.

Para Rebelo, do lado do governo, normas como a Lei do Bem, que prevê crédito fiscal para P&D quando a empresa obtém lucro com inovações, devem ser avaliadas pela maior arrecadação de tributos que propiciam.

Editoria de Arte/Folhapress

QUESTÃO ESTRUTURAL

Paulo Mól, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), braço da CNI (Confederação Nacional da Indústria) para a inovação, diz que há uma razão estrutural para os recursos privados para P&D não acelerarem.

Muito do esforço do setor produtivo se direciona à modernização do parque industrial via importação de tecnologia. Nesse processo, o país fica na periferia do conhecimento "disruptivo" –novo, de fronteira.

Para indústria, a forma de financiamento à inovação inibe investimentos. "A agenda está voltada para o crédito. Quando toma dinheiro emprestado, mesmo que a juros subsidiados, o empresário busca mitigar riscos."

Para Rebelo, o ideal seria avançar para uma fatia maior de recursos que não precisem ser devolvidos. É o modelo adotado, por exemplo, pela Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que arca com até um terço do custo dos projetos aprovados.

Em 2014, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico somou R$ 3,6 bilhões, com subvenção de somente R$ 269 milhões.

PATENTES

O longo tempo para a concessão de patentes no Brasil também mina o ambiente para a inovação. Para um prazo médio de 2,6 anos nos EUA, o do Brasil é de 10,8 anos. Enquanto os americanos contam com 7.831 examinadores, o brasileiro Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) tem 192.

Para Bernardo Gradin, presidente da GranBio, pioneira no mercado de etanol celulósico, se o país acelerar os procedimentos iniciais de exame da patente, esse tempo poderá ter redução significativa.

As patentes também são obstáculo na relação entre academia e indústria.

Luis Cassinelli, diretor de inovação da petroquímica Braskem, diz que algumas instituições pleiteiam "valores exorbitantes" por tecnologia ou patente gerada, mesmo que sua participação se limite a uma parte da pesquisa que gerou um novo produto. Em 2014, a companhia investiu R$ 230 milhões em P&D, 15% mais que em 2013.

Para Germano Vieira, diretor florestal da Eldorado Brasil, empresa do Grupo J&F, que também é dono do frigorífico JBS, o diálogo com a academia é mais eficaz por meio de fundações ou institutos que liguem a empresa à universidade.

A área florestal da Eldorado investiu R$ 6 milhões em inovação no ano passado. Em 2016, o centro de pesquisas da empresa em Três Lagoas (MS) deve entrar em operação.

Ilustrações Affonso/Editoria de Arte/Folhapress

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