Folha de S. Paulo


Hamburguerias vão para as garagens para reduzir custos

Mesmo em baixa, o valor do aluguel de um ponto comercial ainda faz muitos empreendedores em potencial desistirem de abrir um negócio. Alguns, porém, encontraram uma saída na garagem.

"Você tem sua casa, mora sozinho, não vai encher o saco de ninguém" foi o argumento que convenceu Marcio Patrício, 32, a abrir a hamburgueria Cozinha dos Fundos em sua casa, em Cuiabá (MT).

Uma vez por semana, o publicitário preparava lanches artesanais para amigos. Conforme as "hamburgadas" foram crescendo em público e frequência, Patrício foi convencido a transformar o evento em negócio.

Bruno Santos/ Folhapress
Hamburgueria Na Garagem, em São Paulo, não pretende mudar-se para um lugar maior
Hamburgueria Na Garagem, em São Paulo, não pretende mudar-se para um lugar maior

No início, a hamburgueria atendia até 20 pessoas por dia, sempre com reserva, em função do espaço e estoques pequenos.

Com o sucesso, Patrício investiu R$ 200 mil em uma nova casa com capacidade dez vezes maior. Ele diz atender 2.000 pessoas por mês, com faturamento de R$ 80 mil.

A economia no aluguel, contudo, é acompanhada pelo prejuízo na privacidade.

"O tempo foi passando e eu fui perdendo espaço da minha casa. Acabei ficando só com o meu quarto, na parte de cima. Às vezes, fico com vergonha de descer porque não conheço ninguém na minha sala", conta.

Uma solução moderada é alugar o espaço, escolha de Gilson de Almeida, 41, que investiu R$ 150 mil para abrir a hamburgueria Na Garagem, em São Paulo, onde até então funcionava uma sapataria.

Para conseguir operar em um lugar tão pequeno, ele fez um cardápio mais enxuto (há apenas duas opções de lanches) e tem seis funcionários. O resultado se reflete no preço -no máximo, R$ 20 por lanche- mais barato do que os cobrados em outras hamburguerias de Pinheiros.

ZONA MISTA

O investimento baixo -em torno de R$ 150 mil, comparado ao de R$ 1 milhão para um restaurante- é a principal vantagem do modelo, segundo Marcela Farran, da consultoria AyB.

O marketing é outro atrativo: o espaço pequeno permite um contato próximo com o cliente e dá sempre a impressão de cheio -essencial no ramo gastronômico.

Por outro lado, a vantagem vira problema no caso de pratos elaborados, que exigem mais ingredientes e, portanto, precisam de um estoque.

"Os equipamentos também têm que ser feitos sob medida, você tem que otimizar todos os espaços. Isso sai mais caro e leva mais tempo."

Quem abre o negócio na própria casa ainda precisa enfrentar a burocracia de regularização.

É preciso checar se a casa fica em uma zona mista (residencial e comercial) e solicitar a mudança de uso da planta da residência na prefeitura da cidade, processo que pode levar até um ano, de acordo com Claudia Novaes, do escritório de arquitetura CNDOIS, especializado em restaurantes.

Mesmo com essas desvantagens, o momento de crise econômica convenceu Sergio Daidone, 52, a abrir uma "versão garagem" do restaurante Daddy Burger.

Ele espera que a nova unidade, em que já investiu R$ 100 mil, tenha o mesmo faturamento da sede, que exigiu um investimento quatro vezes maior.

NEGÓCIO EM CASA

PRÓS

- Aluguel zero, caso o ponto seja na própria casa do proprietário
- Investimento baixo (R$ 150 mil) comparado ao de um restaurante (R$ 1 milhão)
- Mesmo com poucos clientes, a impressão é que o lugar está sempre cheio

CONTRAS

- Cardápio deve ser reduzido, porque falta de espaço não possibilita estoques
- Para otimizar o uso do local, equipamentos e móveis precisam ser sob medida
- Se o ponto for na residência do proprietário, é preciso regularizar situação na prefeitura, o que pode levar até um ano


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