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Petrobras lucra R$ 5,33 bilhões no 1º tri, após perda bilionária em 2014

Sergio Moraes - 16.dez.2014/Reuters
Petrobras lucra R$ 5,33 bilhões no 1º trimestre, após perda bilionária em 2014

O primeiro resultado trimestral da Petrobras sob gestão da nova diretoria trouxe lucro de R$ 5,33 bilhões nos três meses iniciais de 2015, queda de 1,2% (sem considerar a inflação) em relação aos R$ 5,39 bilhões do resultado no primeiro trimestre de 2014, sob impacto de variação do câmbio, da queda do preço do petróleo e da menor venda de derivados pela desaceleração da economia.

A receita no período foi de R$ 74,4 bilhões, queda de 9% em relação aos R$ 81,5 bilhões do primeiro trimestre de 2014 e queda de 13% em relação aos R$ 85 bilhões dos últimos três meses do ano passado.

Lucro da Petrobras - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Também sob impacto do câmbio, a dívida líquida da empresa avançou 18%, de R$ 282 bilhões, em dezembro de 2014, para R$ 332 bilhões. As captações com a China e com bancos estatais não refletiram no endividamento porque foram fechadas em abril.

Dívida líquida no 1º.tri.2015 - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

O resultado foi o primeiro de Aldemir Bendine à frente da Petrobras. O executivo assumiu a estatal em 6 de fevereiro, em substituição a Graça Foster, que deixou a empresa com cinco diretores, depois do desgaste causado pela divulgação do cálculo de perdas em valores dos ativos na empresa, de R$ 88,6 bilhões, relativos a corrupção e perda em valores de projetos. O número acabou não sendo usado.

Em 22 de abril, a Petrobras divulgou ter tido prejuízo de R$ 21,7 bilhões no ano de 2014, decorrente da baixa em ativos nos valores de R$ 6,2 bilhões atribuídos a perdas com corrupção –dentro do esquema revelado pela Operação Lava Jato – R$ 44,6 bilhões em perdas de valor dos ativos e R$ 2,7 bilhões pela desistência da construção de duas refinarias, no Maranhão e no Ceará.

De acordo com a consultoria Economatica, foi o primeiro prejuízo anual da Petrobras desde 1991, quando a estatal registrou perda de R$ 1,2 bilhão, segundo dados ajustados pela inflação.

DIVIDENDOS

O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Ivan de Souza Monteiro, afirmou na noite desta sexta-feira (15) que o resultado positivo no trimestre não é garantia de distribuição de dividendo em 2016.

Segundo ele, a empresa precisa primeiro voltar a dar lucro anual para que os dividendos voltem a ser distribuídos.

Na divulgação do último balanço da Petrobras, o próprio presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou que neste ano não haveria distribuição de dividendos, uma vez que a companhia fechou o ano passado com prejuízo de R$ 21,7 bilhões.

O dividendo é uma parte do lucro que as companhias de capital aberta distribuem aos acionistas. Sua distribuição é sempre no ano seguinte ao resultado verificado.

Nesta sexta-feira, duas gestoras de investimento –uma brasileira e outra americana– pediram à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para avaliar a proposta de suspensão da assembleia de acionistas da Petrobras. Pelo menos um dos pedidos baseia-se na decisão da estatal de não distribuir dividendos.

REDUÇÃO NO INVESTIMENTO

Relatório da administração da estatal, divulgado na semana passada, também mostrou corte do investimento da empresa na área de exploração de petróleo.

No ano passado, foram desembolsados R$ 10,4 bilhões nas atividades de pesquisa sísmica e perfuração de poços. O valor é 40% menor em relação aos R$ 17,3 bilhões aplicados no ano anterior e 13,3% abaixo dos R$ 12 bilhões aportados em tais projetos em 2012.

Editoria de arte/Folhapress

HISTÓRICO

O lançamento das perdas de corrupção no resultado de 2014 foi exigência da PwC, empresa que audita as demonstrações financeiras da estatal. Foi decorrente da revelação, pela Operação Lava Jato, do funcionamento de um cartel de empresas que, com a participação de diretores da Petrobras, combinava resultados de licitações da companhia, a partir de 2004, e cobrava percentuais entre 1% e 3% para abastecer o esquema, segundo depoimentos.

O esquema veio à tona em outubro, o que levou a PwC a mandar a Petrobras aprofundar as investigações sobre corrupção, atrasando o balanço do terceiro trimestre. Com as evidências do desvio, a empresa teve de calcular o que foi lançado indevidamente como investimento mas que, na verdade, foi desviado em propina.

Em reunião realizada em 23 de janeiro deste ano para discutir os valores de baixa no balanço, a ex-presidente da estatal Graça Foster dividiu com integrantes do Conselho de Administração da Petrobras preocupação até em ser presa e de ter que entregar bens.


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