Folha de S. Paulo


Petrobras deve divulgar nesta quarta balanço contabilizando corrupção

A Petrobras promete, para esta quarta-feira (22), depois do fechamento do mercado, divulgar as demonstrações financeiras auditadas, do terceiro trimestre e anual de 2014, atrasadas devido à descoberta do esquema de corrupção pelas investigações da Operação Lava Jato.

Na média, o mercado estima receita de R$ 330 bilhões e lucro de R$ 20 bilhões, que deverá ser zerado como efeito da corrupção e da revisão de valores de ativos. A divulgação está prevista para as 18h, mas o horário de divulgação pode atrasar dependendo de quando a reunião do Conselho de Administração da Petrobras terminar.

Por contrato, na falta da publicação de um balanço auditado, credores podem vender ou exigir o vencimento antecipado de títulos de dívidas da Petrobras –o que já poderia acontecer no fim deste mês. Ao entregar as demonstrações financeiras de 2014 auditadas, a empresa afasta essa possibilidade.

Também afasta o risco de ser impedida de negociar ADRs (papéis lastreados em ações) negociadas na Bolsa de Nova York e ações na BM&FBovespa.

DENÚNCIA DE CORRUPÇÃO ATRASOU BALANÇO

Em novembro, as demonstrações trimestrais atrasaram porque a PwC determinou à estatal uma investigação aprofundada para entender o esquema de corrupção relatado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa à Justiça, em outubro, operado por um cartel de empreiteiras que combinava resultados de licitações e propinas nas obras.

As demonstrações anuais atrasaram porque, conhecido o esquema, a PwC determinou que fosse determinado o valor pago em propinas e que esse número fosse subtraído dos ativos, uma vez que, por anos, foram contabilizados como investimento.

Conselheiros de administração da empresa preveem reunirem-se entre si antes da reunião com a diretoria da empresa, prevista para as 11h desta quarta, no Rio.

Conforme antecipou a coluna Painel, conselheiros fiscais da Petrobras foram ao Rio de Janeiro na última segunda-feira (20) para ver os números antes do conselho de administração. A Folha apurou que eles desistiram, preocupados com o risco de serem responsabilizados em caso de vazamento.

Em janeiro, a ex-presidente Graça Foster contratou duas consultorias para fazer a conta da corrupção. O cálculo apontou R$ 88,6 bilhões em ativos inflados e R$ 27,2 bi em ativos subavaliados.

A conta acabou descartada, para efeito de ajuste dos ativos, porque embutia efeitos além da corrupção, como ineficiências, câmbio, preço do barril e sobrepreço.

Apesar disso, o número foi apresentado ao mercado, contrariando a presidente Dilma Rousseff. O imbróglio evoluiu para uma crise que resultou na saída de Graça e cinco diretores.

A conta evidenciou, porém, a necessidade de ajustar o valor real dos ativos, considerando os investimentos e a capacidade futura de gerar receita. Esse ajuste é conhecido como "impairment", e a empresa costuma fazê-lo quando encontra indícios de não recuperação do valor de um ativo. A Refinaria de Pasadena teve "impairment" de US$ 225 milhões, em 2012.

As perdas com corrupção e os "impairments" levarão à redução no valor atual do ativo imobilizado da empresa, de R$ 600 bilhões.

Uma parcela do custo da corrupção –não está claro se a totalidade– e os "impairments" serão lançadas também como despesa, na demonstração de resultado.

O mercado crê que tais despesas vão zerar o lucro. Se isso ocorrer, a empresa não distribuirá dividendos, algo que não ocorreu pelo menos nos últimos 20 anos. A possibilidade havia sido aventada em janeiro pelo ex-diretor financeiro Almir Barbassa, que previu tal hipótese em caso de "estresse financeiro".


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