Folha de S. Paulo


Alvo da Operação Zelotes foi condenado por negócios no exterior

Alvo da investigação da Polícia Federal que apura esquema de compra de decisões do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), o empresário Victor Garcia Sandri já foi condenado pela Justiça Federal, pela mesma suspeita, a dois anos de prestação de serviços.

O processo corre sob sigilo, mas decisão publicada em fevereiro tornou pública a condenação de Sandri, que ainda recorre da sentença.

Sandri, que fez negócios com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, de quem diz ser amigo, é dono do Grupo Comercial de Cimento Penha, uma das 12 empresas que tiveram multas revertidas no conselho —é contra elas que a PF diz ter "elementos consideráveis de irregularidades" na atual operação.

O esquema se valia de escritórios de advocacia e representação empresarial (lobby) para comprar voto dos conselheiros do Carf, um tipo de tribunal que julga recursos de multas da Receita.

Autuada pelo fisco em R$ 106 milhões, a Cimento Penha teria simulado uma operação de compra de títulos do Tesouro dos EUA para "enviar recursos de terceiros para o exterior".

A empresa nega as supostas irregularidades e recorreu ao Carf para tentar reverter o caso. Para isso, segundo apurou a reportagem, ela usou os serviços da SGR Consultoria Empresarial, um dos principais escritórios de representação investigada pela PF na Operação Zelotes.

O processo foi revertido integralmente em favor da companhia. Em seu voto, o relator, Jorge Freire da Silva, apontou "erro flagrante da fiscalização [do fisco]".

Mas, a pedido da Receita, o Ministério Público entrou com ação contra Sandri, que levou à condenação.

NEGÓCIOS À PARTE

A relação do empresário com o ex-ministro da Fazenda começou há duas décadas, quando Sandri comprou os primeiros terrenos da família Mantega para construir prédios em áreas comerciais nobres de São Paulo.

Mantega vendeu terrenos para a Sandria Projetos e Construções, empresa de Sandri especializada no ramo imobiliário. Recebeu parte do pagamento em dinheiro e outra parte em escritórios (conjuntos) nos edifícios construídos. A transação rendeu R$ 2,6 milhões, em valores da época, além de cinco escritórios e metade de um outro e 13 vagas de garagem.

Hoje, esses imóveis estão avaliados em cerca de R$ 30 milhões, segundo corretores.

OUTRO LADO

Por meio de sua advogada, o empresário Victor Sandri afirma que é amigo de Guido Mantega e nega qualquer irregularidade no processo investigado pela PF. Ele diz ser "injusta" a condenação pela Justiça.

Segundo a advogada Dora Cavalcanti, a compra dos papéis no exterior foi um investimento normal oferecido por um banco. "Foi tudo registrado pelo Banco Central", diz.

Cavalcanti acredita que a condenação, mantida pela Justiça, será revertida. "Não foi uma decisão unânime e ainda cabe recurso."

A advogada desconhece que seu cliente seja alvo da PF ou tenha contratado a SGR para representar a Cimento Penha no Carf.

A Folha tentou, sem sucesso, contato com o ex-ministro Guido Mantega até o fechamento desta edição.


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