Folha de S. Paulo


Dilma nem sempre age de forma eficaz, afirma Joaquim Levy

O ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou na última terça-feira (24), em evento a portas fechadas em São Paulo, que, embora seja bem-intencionada, a presidente Dilma Rousseff nem sempre faz as coisas da maneira mais simples e eficaz.

"Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno", disse o ministro, conforme gravação do evento obtida pela Folha.

Neste sábado (28), o ministro afirmou que a frase foi tirada de contexto e reclamou da interpretação. A declaração -a primeira em que Levy direciona uma crítica especificamente ao nome da presidente em público- foi dada em clima informal a uma plateia de dezenas de ex-alunos da escola de negócios da Universidade de Chicago, instituição onde Levy se graduou Ph.D.

O diálogo ocorreu em inglês, idioma de alguns dos espectadores, e a frase original foi: "I think that there is a genuine desire by the president to get things right, sometimes not the easiest way, but... Not the most effective way, but there is this genuine desire".

Ouça trecho da palestra de Levy.

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O ministro já tinha feito críticas à gestão da presidente nos últimos meses, mas nunca à sua pessoa.

Alan Marques - 26.fev.2015/Folhapress
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, participa do lançamento do Programa Bem Mais Simples Brasil
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, participa do lançamento do Programa Bem Mais Simples Brasil

No final de fevereiro, quando anunciava novas medidas de seu ajuste fiscal, ele usou expressões duras contra o programa lançado no primeiro mandato para desonerar a folha de pagamento.

Na ocasião, ele disse a jornalistas que as medidas anteriores foram grosseiras, uma "brincadeira" que havia custado caro aos cofres brasileiros e que não tinha gerado resultado equivalente na proteção dos empregos.

Folhapress/Editoria de Arte

Dias depois, recebeu um puxão de orelha da presidente, que disse a jornalistas ter considerado infelizes as declarações do ministro.

APRENDIZADO

Na terça passada (24), o contexto da afirmação foram observações já reiteradas nos últimos meses por Levy sobre a condução da política econômica no primeiro mandato. Ele descreveu o governo como "ciente dos erros cometidos" e em consenso sobre a necessidade de mudanças. Citou um "processo de aprendizado" e disse que há vigilância para evitar novos equívocos.

A pergunta da plateia que levou o ministro a mencionar a presidente abordou as mudanças em curso e a equipe do Fazenda.

Em eventos recentes com empresários, o discurso do ministro em defesa do ajuste fiscal têm passado pelo que ele se refere como erros do passado. Em palestra a executivos de multinacionais há um mês, Levy chegou a dizer que o país deu uma "escorregadazinha" no campo fiscal, mas que a responsabilidade nas contas públicas foi retomada.

O vocabulário usado por ele costuma carregar ironias, como em recente entrevista à Folha, quando defendeu as medidas adotadas fazendo comparação indireta com o regime que fez a presidente perder peso. No evento de terça, fez gargalhar a plateia ao se referir aos congressistas como "novos amigos".


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