Folha de S. Paulo


Carro sem motorista deve chegar ao mercado em 2020

Um anúncio na revista americana "Life" dizia, em 1957, que o carro do futuro não precisaria de motorista.

O que parecia delírio de consumo nos anos 1950 encosta na realidade, 60 anos depois. A Volvo anunciou que em 2017 entregará seus primeiros veículos autônomos para testes a cem clientes em Gotemburgo (Suécia).

Em 2018, segundo o plano da montadora sueca, esse sistema de direção que prescinde de piloto humano estará disponível ao público para vários modelos, ao custo estimado de € 2.000 (R$ 6.920).

"Veículos autônomos são o futuro do mercado", afirma Dirlei Dias, gerente da Mercedes-Benz. Isso porque o consumidor demanda cada vez mais conforto "e necessita de tempo livre e interatividade com plataformas digitais".

A montadora alemã testa versões sem piloto dos modelos E e S na Califórnia, nos EUA. A previsão é de que cheguem às lojas em 2020.

A japonesa Nissan, em parceria com a Nasa (agência espacial americana), também promete para 2020 esse carro dos sonhos de quem não gosta de dirigir. E lançará parte dessa tecnologia já em 2016: trata-se de um sistema que liga o piloto automático só em vias congestionadas.

Entre vários testes de carros autônomos feitos por montadoras está o da alemã Audi, que realizou sem incidentes uma viagem de 900 quilômetros, entre o Vale do Silício e Las Vegas (EUA), com o modelo A7 adaptado.

Até o Google resolveu entrar na briga. Em parceria com uma firma de engenharia, criou um protótipo de veículo sem pedais e sem volante, em teste nos EUA. Embora não faça previsão oficial de lançamento, a empresa também trabalha para levar o modelo ao mercado até 2020.

Editoria de Arte/Folhapress

DECISÕES RÁPIDAS

Cada marca tem um sistema de carro autônomo, mas todos funcionam de forma semelhante. Consiste em uma combinação de radares e câmeras que analisam o que ocorre em volta do veículo.

"Os softwares obtêm dados dos sensores, interpretam e calculam, no fim das contas, quantos graus o volante deve virar e qual será a pressão aplicada no freio e no acelerador a cada momento", afirma Denis Wolf, coordenador do Carina (Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma), desenvolvido pela USP São Carlos desde 2010.

A direção autônoma, portanto, pode ser implantada em diferentes modelos. No futuro, deve funcionar como um opcional que o comprador escolherá como faz hoje com a cor do carro ou o som.

Segundo Wolf, os "segredos" de cada montadora estão nos programas, já que os sensores usados são parecidos. Cada marca desenvolve um software com técnicas distintas de inteligência artificial "para que ele pense como um ser humano em situações complexas" e tome decisões em milésimos de segundo, explica o engenheiro.

"A tecnologia para o carro autônomo já existe, o que precisa é melhorar a infraestrutura de trânsito", afirma Ricardo Takahira, da AEA Brasil (associação de engenheiros). "O carro precisa de informação da rua, do semáforo, das faixas de trânsito, da ciclovia", acrescenta.

Tudo dependerá de mapas oficiais de tráfego fornecidos em tempo real, com avisos sobre acidentes e interdições. Nenhuma cidade do planeta dispõe hoje desse tipo de informação atualizada.

Segundo a Audi, levará décadas para que dados dessa natureza estejam disponíveis a ponto de permitir a circulação de carros sem motorista em qualquer circunstância. A montadora diz, porém, que em 2020 já terá modelos nos quais a máquina "assume o volante" em um congestionamento, ao menos.

Em países como EUA e Inglaterra já é possível obter autorização para testar carro sem piloto em vias públicas. No Brasil, não há iniciativa parecida, embora as marcas planejem trazer o sistema para este mercado.

"Ainda não iniciamos conversa com o poder público aqui, serão necessárias a cooperação de autoridades de trânsito e a adequação da lei. É preciso estabelecer de quem será a culpa em caso de acidente", exemplifica Jorge Mussi, diretor da Volvo.


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