Folha de S. Paulo


BNDES empurra risco da Sete Brasil para bancos credores da companhia

O BNDES não quer mais financiar diretamente a Sete Brasil, principal parceira da Petrobras na exploração do pré-sal. Com medo da Lava Jato, a instituição pretende repassar o risco da operação para os bancos que já são credores da companhia.

Em vez de emprestar US$ 9 bilhões diretamente à Sete, como prometeu quando o projeto foi criado, o BNDES agora pretende transferir esses recursos aos bancos para que eles financiem a companhia. Assim, se o empreendimento fracassar, a perda ficará com os bancos.

A proposta foi apresentada, na sexta (6), aos cinco bancos que já deram US$ 3,6 bilhões (R$ 12 bilhões) à companhia: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Santander, Bradesco e Itaú.

À espera do financiamento de longo prazo prometido pelo BNDES desde a criação da Sete, essas instituições concederam empréstimos de curto prazo –que já venceram e precisaram ser rolados por mais dois meses.

Os bancos não gostaram da proposta do BNDES e um deles já disse à Folha que não pretende fechar o acordo. Se não aceitarem a solução e o BNDES de fato não financiar a Sete, a empresa pode quebrar deixando os bancos com um calote bilionário.

O BNDES e a Sete não quiseram comentar.

Uma das apostas mais ambiciosas do governo da presidente Dilma Rousseff, a Sete foi criada pela Petrobras para construir e depois alugar 28 sondas de perfuração para a Petrobras.

Orçado em US$ 25 bilhões, o empreendimento atraiu sócios de peso: Bradesco, BTG Pactual, Santander, o FI-FGTS, Previ e Funcef, os fundos de pensão do Banco do Brasil e da Caixa, que já investiram R$ 8,3 bilhões.

Com a demora do BNDES, a Sete vem atrasando pagamentos há cinco meses, comprometendo a construção das sondas. Os atrasos somam US$ 900 milhões.

Editoria de Arte/Folhapress

LAVA JATO

A situação ficou dramática depois que o ex-diretor de operações da Sete, Pedro Barusco, confessou ter cobrado propina dos estaleiros contratados para fazer as sondas –reproduzindo na Sete o esquema de desvios que praticou na Petrobras quando foi gerente executivo da estatal.

Desde então, o BNDES passou a exigir garantias cada vez maiores para liberar o empréstimo de longo prazo. Até a presidente Dilma Rousseff entrou no jogo para pressionar a direção do banco.

Para os acionistas da Sete, o comando do BNDES quer distância da companhia com medo dos desdobramentos da Lava Jato. Analistas do mercado levantam outro motivo. A Sete nasceu para explorar o pré-sal com o barril de petróleo acima de US$ 100. Hoje, a US$ 58, sua viabilidade fica comprometida.

O impasse também leva a Petrobras e sua fornecedora a reduzir as encomendas de sondas. Para a Petrobras, isso ajudaria seu programa de redução de investimentos. Para a Sete também seria uma saída, porque diminui sua necessidade de financiamento.

O problema é que, ao escolher esse caminho, os sócios da Sete teriam de assumir perdas geradas pelo encolhimento, um novo ponto de estresse na companhia.


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