Folha de S. Paulo


Entenda nova metologia de cálculo do desemprego da Pnad Contínua

Os dados de desemprego da Pnad Contínua, pesquisa sobre mercado de trabalho em âmbito nacional, divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (12), são os primeiros a sair segundo nova metodologia de cálculo, em que os resultados trimestrais são atualizados e apresentados mensalmente.

Ou seja, a cada mês, são divulgados números referentes a aquele mês junto com os dois meses imediatamente anteriores.

O modelo de média trimestral adotado pelo Brasil foi baseado no usado pelo Reino Unido, segundo o IBGE. Outros países fazem pesquisas de emprego trimestrais, mas realizam estimativas mensais com base em estimativas, a partir dos dados já levantados.

Espanha, França, México e Chile coletam informações a cada três meses. Canadá e Austrália, com populações menores e mais concentradas em algumas regiões, fazem levantamentos mensais. Os EUA divulgam dados mensais, mas ampliam a sua amostra (relativamente pequena para o tamanho da população do país) por meio de modelos matemáticos.

HISTÓRICO

Idealizada desde 2006 e com dados coletados a partir de 2012, a Pnad Contínua foi desenhada para ser uma pesquisa trimestral com informações sobre mercado de trabalho do país todo e substituir a PME (Pesquisa Mensal de Emprego), restrita as seis maiores regiões metropolitanas do país.

Após pressão de usuários da pesquisa (analistas, pesquisadores e outros), o IBGE decidiu que apresentaria dados mensalmente neste ano –as divulgações a cada três meses começaram no ano passado. A partir de então, começou a elaborar uma metodologia para calcular uma taxa de desemprego e outros indicadores (número de pessoas ocupadas, rendimento, número de pessoas na força de trabalho e outros) mensal.

O instituto fez testes como uma taxa mensal "pura", comparada com o mês anterior e o mesmo mês do ano anterior. Mas identificou um problema: como a pesquisa nasceu para ser trimestral, sua amostra foi feita para repetir visitas a cada trimestre 80% dos domicílios investigados. É a chamada sobreposição, necessária para evitar distorções, que ocorrem sobretudo no rendimento e na taxa de desemprego (com a mudança de lares pode-se ter um padrão de renda diferenciado e um perfil diferente do número de pessoas ocupadas, por exemplo).

O problema é que essa sobreposição não acontece mensalmente. Um domicílio visitado em janeiro, por exemplo, só volta a ser pesquisado em abril, por exemplo. São cinco idas a essa mesma residência visitada em janeiro, que só sai da amostra em janeiro do ano que vem. Isso permite uma confiabilidade maiores dos resultados, segundo o IBGE.

Sem ter um percentual de repetição de domicílios investigados de um mês para o outro, os testes mostraram que os indicadores mensais "traziam ruído e uma maior volatilidade", segundo Cimar Azeredo Pereira, coordenador de Emprego e Rendimento do IBGE.

A opção testada que se apresentou melhor, segundo o IBGE, foi fazer uma média trimestral, com a inclusão de dados coletados a cada mês. Por exemplo, a taxa de desemprego divulgada em janeiro corresponde à média de novembro, dezembro e janeiro, comparada com esse mesmo período do ano anterior e com a média dos três meses imediatamente anteriores (agosto, setembro, outubro).

Pereira diz que o método "suaviza" e "atenua" as oscilações da série da pesquisa, pois trata-se de uma média.

Bruno Campos, analista da LCA, diz que o melhor para análise da conjuntura do mercado de trabalho era uma taxa mensal "pura", embora compreenda as limitações técnicas do IBGE. Economistas, diz, foram surpreendidos pela taxa móvel trimestre, que, de fato, atenua as tendências.

TENDÊNCIA

Para Wasmália Bivar, presidente do IBGE, os resultados apresentados a cada mês mostram uma "tendência" da taxa de desemprego e qual foi a influência do mês mais recente (agora, no caso, janeiro) nessa trajetória.

De acordo com ela, os resultados mensais da Pesquisa Mensal de Emprego mostravam variações muito discretas de um mês para o outro e explicadas mais por questões sazonais do que por efeitos da conjuntura econômica. A PME não sofre ajuste sazonal para atenuar influências típicas de cada período.

A escolha por fazer uma pesquisa trimestral, diz, se deu em razão do "alto custo e da dificuldade operacional" de fazer entrevistas "em um país de dimensões continentais" e com grande população.

Segundo Bivar, a "tradição" da Europa, do Brasil e de outros países da América Latina é basear seus dados em informações coletadas diretamente em campo.

CALENDÁRIO

Em resposta sobre a introdução das mudanças num momento de alta da taxa de desemprego, Roberto Olinto, diretor de pesquisas do IBGE, diz que todas as decisões "foram técnicas" e não houve influência externa. A greve do IBGE no ano passado, que durou dois meses e afetou a coleta da Pnad Contínua, atrasou o calendário de divulgações.

A cada mês, o IBGE apresentará essa taxa trimestral móvel, com dados de emprego, desemprego, rendimento e outros. A expectativa é que a cada três meses (no fechamento do trimestre "oficial") as informações sejam mais detalhadas, com dados por regiões e Estados, além de informações por setores e sobre formalização –que não estão disponíveis ainda.

O resultado do primeiro trimestre (janeiro a março) será apresentado em maio e a previsão é que parte dessas informações que não estão disponíveis ainda sejam publicadas.

A Pnad Contínua investiga 311 mil domicílio a cada trimestre –70,5 mil lares são pesquisados ao mês por 2000 entrevistadores. São 3.464 cidades são visitadas pelo IBGE a cada trimestre


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