Folha de S. Paulo


Caminhoneiro foi arrastado por 20 metros e morreu na hora, diz tio

O caminhoneiro Cléber Adriano Machado Ouriques, 38, foi arrastado por cerca de 20 metros após ter sido atropelado por um caminhão dirigido por um motorista que furou o bloqueio na BR-392, em São Sepé, na região de Santa Maria –centro-sul do RS–, na manhã deste sábado (28).

A afirmação é do sindicalista Dilso Peterini, tio da vítima. "Ele morreu na hora", completou. Um dos diretores da Coosetral (Cooperativa Sepeense de Transportadores Autônomos), Ouriques participava de um ato na BR-392 que tentava adesão de outros colegas para as manifestações da categoria.

Desde o último dia 18, caminhoneiros protestam em todo o país reivindicando, entre outros pontos, redução do preço do diesel e aumento do valor do frete. Neste sábado, o movimento segue mais concentrado na região Sul do país, onde havia de manhã 32 dos 38 bloqueios em estradas federais.

As manifestações ocorrem apesar da multa à categoria imposta pela Justiça Federal de até R$ 10 mil por hora de paralisação nas rodovias.

Jornal "A Palavra"
O caminhoneiro Cléber Ouriques, 38
O caminhoneiro Cléber Ouriques, 38

Para evitar essa multa, os caminhoneiros estão interditando as estradas sem o uso de caminhões. Foi o que aconteceu em São Sepé, segundo Peterini.

Antes do atropelamento, o sindicalista contou que Ouriques e outros caminhoneiros deixaram seus veículos estacionados num posto próximo e foram protestar a pé, em um acampamento ao lado da pista.

Segundo Peterini, o movimento dos caminhoneiro em São Sepé (RS) tentou de manhã convencer os colegas para que eles se juntassem ao protesto.

Quando um deles furou o bloqueio, Ouriques e outros dois caminhoneiros pegaram um carro de passeio e seguiram o caminhão.

Após ultrapassar esse veículo –cerca de 8 km depois, segundo a Brigada Militar–, os três desceram do carro e pediram novamente para que o caminhão parasse e aderisse ao movimento.

Foi aí que ocorreu o atropelamento. "Quando ele [motorista] acelerou, o caminhão atingiu Cléber, que foi arrastado por 20 metros. Morreu na hora. Algumas partes do veículo se soltaram, como o para-choque, e ficaram na estrada", disse. Na sequência, o atropelador fugiu.

Ouriques participava de movimentos sindicais desde os 18 anos e era de uma família de caminhoneiro –o pai dele, Lauro Ouriques, também é motorista de caminhão, assim como o tio Peterini.

De acordo com Peterini, os manifestantes receberam outra determinação da Justiça, que prevê multas também para quem ficar acampado ao lado da pista.

Por isso, contou o sindicalista, o grupo mudará o local de estacionamento dos caminhões para uma propriedade privada.

REIVINDICAÇÕES

Os caminhoneiros fazem protestos há dez dias e chegaram a realizar mais de cem bloqueios em 14 Estados –incluindo São Paulo.

Na manhã deste sábado, só nas estradas federais são 38 interdições em cinco Estados (RS, PR, SC, MT e MS), segundo o boletim da Polícia Rodoviária Federal das 7h.

Na comparação com o último boletim de sexta -o das 19h-, quando eram 57 bloqueios também em cinco Estados, houve queda, mas o movimento já previa um afrouxamento dos protestos no final de semana. A categoria pretende retomar as interdições na segunda (2).

Os caminhoneiros pedem também redução no preço do pedágio e a sanção, por parte da presidente Dilma Rousseff, de mudanças na legislação que flexibilizam a jornada de trabalho.

Na última quarta (25), o governo chegou a anunciar um acordo com a categoria, prevendo por exemplo a manutenção do preço do diesel por seis meses. Parte dos motoristas não reconhece o acordo.

Principalmente no Sul, o movimento segue forte, mas há líderes da categoria que prevê o afrouxamento nos protestos, como Afrânio Kieling, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logísticas no Rio Grande do Sul.

"As empresas não têm mais onde colocar a carga, seus depósitos ficaram lotados. Os caminhoneiros vão trabalhar direto durante o fim de semana para liberar esse fluxo."


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