Folha de S. Paulo


Lucro da Vale em 2014 sobe 729%, mas houve prejuízo no último trimestre

Mesmo com o cenário de baixo preço do minério de ferro, o lucro da Vale saltou 729% para R$ 954 milhões em 2014. No ano anterior, o lucro da mineradora brasileira havia sido de R$ 115 milhões.

Apesar disso, se contado apenas o quarto trimestre, a empresa teve prejuízo de R$ 4,7 bilhões, uma alta de 42% em relação ao prejuízo de R$ 3,3 bilhões. Na comparação com o resultado negativo verificado no último trimestre de 2013, houve uma melhora no cenário, com queda de 68% em relação aos R$ 14,7 bilhões negativos do período. A empresa registrou prejuízo no trimestre em que ela bateu recorde de produção.

O prejuízo decorreu principalmente da queda do preço do minério de ferro, o principal produto vendido pela mineradora, que recuou quase à metade no intervalo de um ano. No último trimestre de 2013, o preço do minério estava em US$ 118,7 a tonelada e em igual período de 2014, estava em US$ 61,57 por tonelada.

Ainda assim, o resultado anual da maior produtora de minério de ferro do mundo avançou principalmente pelo fato de a empresa ter batido recordes de produção no último trimestre de 2014, e feito a redução de despesas e a manutenção de sua política de venda de ativos não considerados estratégicos.

O preço do minério de ferro, no entanto, reduziu todos os indicadores financeiros da companhia, tais quais receita e geração de caixa. O efeito, contudo, foi mitigado pelo bom desempenho operacional, com recordes de produção de minério de ferro, produto que representa quase 70% de sua receita, cobre e ouro.

A receita operacional líquida da Vale caiu 13% em 2014 e ficou em R$ 88,2 bilhões. Em 2013, a receita da mineradora havia sido de R$ 101,4 bilhões. A China continuou a ser o principal destino da produção da Vale, responsável por 33,1% das receitas da companhia. O Brasil respondeu por 17,3% das vendas no ano passado.

Apesar de ter ficado no azul, três das suas quatro linhas de produtos da empresa- minerais ferrosos, carvão e fertilizantes- apresentaram redução de receita em 2014 ante 2013. Apenas metais básicos, no que se inclui níquel, cobre ouro e prata, tiveram vendas maiores.

"Estamos firmes na nossa estratégia de redução de custos, de otimização do programa de investimentos e na aceleração de desinvestimentos e parcerias", disse o presidente da Vale, Murilo Ferreira, em teleconferência com analistas na manhã desta quinta-feira (26).

Entre as vendas de ativos esperada estão navios cargueiros da empresa chamados Valemax, de grande porte, criados para que a empresa consiga exportar minério para China e manter seus custos competitivos frente aos praticados por mineradoras australianas, que ficam mais próximas do país asiático.

A empresa fechou acordo para a venda da 15% da Vale Moçambique e 50% de participação em um corredor logístico Nacala, no mesmo país, para a japonesa Mitisui como forma de dar continuidade ao seu plano de desinvestimento.

QUARTO TRIMESTRE

A receita líquida avançou para R$ 23,1 bilhões no último trimestre de 2014, montante que representa alta de 12% ante o terceiro trimestre e queda de 22% ante o quarto trimestre de 2013.

A geração de caixa medida pelo Ebitda foi de R$ 5,5 bilhões e caiu nas duas bases de comparação. Frente ao trimestre imediatamente anterior, a queda foi de 18%. Ante o último trimestre de 2013, o recuo foi de 63%.

CAIXA

O Ebitda, indicador que mede a geração de caixa da empresa, também recuou em 2014 para R$ 31,1 bilhões, queda de 36% em relação a 2013. O indicador sofreu impacto principalmente do menor preço das commodities e também de menores dividendos das empresas afiliadas da Vale. O impacto poderia ter sido maior caso o real não estivesse desvalorizado em relação ao dólar. Como a empresa tem custos em real e exporta a maior parte de sua produção, ela se beneficia da alta da moeda americana.

DÍVIDA

A dívida líquida da Vale avançou 1,4% no ano passado –era de US$ 24,331 bilhões em 2013 e foi para US$ 24,685 bilhões em 2014. A relação dívida/Ebitda, importante indicador do grau de endividamento da empresa que mostra, em tese, em quantos anos o caixa da empresa pagaria sua dívida, era de 1,3 vezes ao final de 2013 e foi para 2,2 vezes ao término de 2014.

O diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, afirmou que devido ao mau momento do preço das commodities, a alavancagem da empresa deverá aumentar nos próximos dois anos para algo em torno de 3,5 vezes. Ele disse, porém, que não acredita que a empresa terá rebaixado seu grau de investimento pelas agências de risco.

MINA ENCALHADA

A Vale registrou uma perda de R$ 2,7 bilhão com o projeto de Simandou, mina localizada na Guiné Equatorial, oeste da África. A empresa reconheceu um "impairment", que é um valor de investimento que fica parado, de R$ 1,676 bilhão. A companhia já havia reconhecido no primeiro semestre de 2014 um valor de R$ 1,118 bilhão.

Esses valores correspondem aos investimentos feitos na Guiné. Sob a gestão anterior liderada por Roger Agnelli, a Vale pagou R$ 5,5 bilhões em 2010 por 51% da reserva à empresa israelense BSG. O governo da Guiné, porém, viu indícios de corrupção e problemas na concessão dada à BSG e cancelou o contrato de exploração.

PRODUÇÃO

A Vale registrou recorde na oferta anual de minério de ferro– de 331,6 milhões de toneladas em 2014, incluindo a produção própria de 319,2 milhões de toneladas e 12,3 milhões de toneladas de minério adquirido de terceiros.

Principal mina da companhia, Carajás (PA) também teve seu melhor desempenho na história, com extração de 119,7 milhões de toneladas, 14,8 milhões de toneladas acima de 2013.

No quarto trimestre, a mineradora bateu recorde de produção para o período, com extração de 83 milhões de toneladas, 1,7 milhões de toneladas a mais que no quarto trimestre de 2013.


Endereço da página:

Links no texto: