Folha de S. Paulo


Dilma diz que rebaixar nota da Petrobras é 'desconhecimento'

Em meio à maior crise que enfrenta desde o início de seu governo, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (26), em Feira de Santana (BA), que o rebaixamento da nota da Petrobras foi uma falta de conhecimento sobre o que ocorre na estatal.

"Eu acho que [o rebaixamento da nota] é uma falta de conhecimento direito do que está acontecendo na Petrobras. Agora eu não tenho dúvida que a Petrobras vai ter uma capacidade de se recuperar disso sem grandes consequências", disse a presidente a jornalistas após cerimônia para entrega de residências do Minha Casa, Minha Vida.

Nesta terça (24), a agência de classificação de riscos Moody's rebaixou em dois graus a nota da maior estatal brasileira, levando à perda do chamado grau de investimento, espécie de selo de empresa segura para se investir.

Questionada se foi correta a atuação do governo e do ministro Joaquim Levy (Fazenda), de tentar demover a agência da decisão, Dilma disse que "o governo sempre vai tentar evitar o rebaixamento, isso é absolutamente natural".

"Nós só lamentamos que não tenha tido correspondência por parte da agência, mas eu acho que isso está superado", afirmou.

A presidente disse ainda não acreditar que a nota de risco do Brasil também seja rebaixada, em consequência da crise econômica e política que o país enfrenta.

DIESEL

Dilma também afirmou que o governo não irá baixar o preço do diesel, uma das reivindicações de caminhoneiros que, em protesto contra a alta do combustível e o baixo valor dos fretes, fecharam estradas nesta semana em ao menos 11 Estados, provocando desabastecimentos e afetando o setor produtivo.

"O governo não tem como baixar o preço do diesel", disse. Segundo a presidente, o governo não elevou o preço do óleo, mas apenas recompôs o valor da Cide (tributo regulador do preço de combustíveis). "O que fizemos foi recompor a Cide. E não elevamos uma vírgula o preço dos combustíveis e nem abaixamos."

A presidente reclamou que o governo foi criticado quando baixou o tributo, e também quando ele foi retomado. "Quando a parte dura da crise começou, nós baixamos a Cide para poder ter um enfrentamento da crise. Agora nós achamos que é hora de voltar com a Cide."

Ela não detalhou quais medidas o governo irá oferecer aos caminhoneiros em rodada de negociações que está prevista para ocorrer nesta tarde, em Brasília.

'NOVO CICLO'

Dilma participou, em Feira de Santana (a 108 km de Salvador), da entrega de 920 residências do programa Minha Casa, Minha Vida. Durante o evento, ela afirmou que tem "coragem suficiente para fazer as mudanças necessárias" em seu governo, mas que não abrirá mão dos programas sociais, como o de habitação popular.

"Ninguém faz ajuste por fazer ajuste. Eu faço ajuste no meu governo como uma mãe, uma dona de casa faz na casa dela. Nós precisamos de dar condições para retomar um novo ciclo de desenvolvimento econômico. Para quê? Para gerar mais emprego, para segurar mais renda e fazer com que o Brasil continue a crescer de forma acelerada", afirmou.

Dilma afirmou ainda que, para viabilizar este "novo ciclo", o governo está fazendo ajustes conjunturais, alguns momentâneos e outros permanentes, como a reforma tributária.

"Nós fizemos uma série de medidas. Algumas vão ser permanentes, ou seja, a estrutura da tributação vai ser permanente. Outras que vão flutuar conforme a conjuntura", afirmou. "O que nós estamos fazendo é o seguinte, preparando o Brasil para um novo ciclo de crescimento. O nosso compromisso é um só: é emprego, é salário, e é renda das pessoas."

Passados menos de dois meses de seu segundo mandato e enfrentando um escândalo de corrupção na Petrobras, alta da inflação e perspectiva recessão na economia, Dilma enfrenta a mais grave crise desde o início de seu governo, em 2011.

As unidades dos condomínios Solar da Princesa 3 e 4 tiveram investimento de R$ 52,4 milhões pelo governo federal. Os contemplados nesta quarta se enquadram na primeira faixa do programa, que beneficia famílias com renda mensal de até R$ 1.600 e que pagarão parcelas de até R$ 80 ao mês pelo imóvel.

INFLAÇÃO

Sobre a alta da inflação, Dilma atribuiu parte do problema à seca, que "afetará tanto o custo dos produtos alimentícios como o custo dos produtos em geral por conta da energia elétrica".

Segundo dados divulgados pelo IBGE nesta terça, o índice que mede a prévia da inflação, IPCA-15, atingiu 7,36% no acumulado de 12 meses, o maior da série histórica. Na véspera, pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, mostrou maior pessimismo da economia e expectativa de recessão, com queda de 0,5% do PIB.

"Se você tem um momento de seca, você tem um efeito direto nos preços dos alimentos. Cesta básica é alimento. E cesta básica, preço de alimento, com seca e tudo, influencia a inflação. Inflação é efeito da cesta básica, é efeito do aumento de preços", afirmou.


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