A Petrobras, maior estatal brasileira, perdeu nesta terça (24) o chamado grau de investimento, espécie de selo de local seguro para investir, da agência de classificação de riscos Moody's, considerada uma das mais austeras em suas avaliações.
O motivo foi a crescente dificuldade de a empresa conseguir publicar o balanço auditado, levantar dinheiro no mercado de capitais e o impacto que isso terá em seu caixa nas próximas semanas.
O rebaixamento, que ocorre duas semanas após a troca no comando da estatal, terá como consequência a saída de investidores, como fundos de pensão e de investimento, que não podem colocar dinheiro em ações e dívidas de empresas consideradas de alto risco de calote, como é agora a Petrobras.
Sem balanço auditado, a estatal não conseguia levantar recursos no mercado de capitais. A mudança deve tornar ainda mais caro o financiamento da companhia. Também deverá impactar os custos de financiamento de toda a cadeia de óleo e gás, que tem na Petrobras a principal intermediadora junto aos bancos e ao mercado financeiro. Pelo menos R$ 9 bilhões em papéis de fornecedores da Petrobras estão nos fundos de investimento brasileiros.
De uma só vez, a agência rebaixou a nota da estatal em dois degraus, ação incomum no histórico das agências de avaliação de risco, e ainda indicou que a empresa pode ter novos rebaixamentos.
Também é raro que uma estatal tenha uma avaliação de risco tão abaixo do próprio país (que está em Baa2, três graus acima da Petrobras). Isso porque as agências entendem que o risco de calote de uma empresa dessas se confunde com o do país –ou seja, em caso de necessidade sempre será socorrida pelo governo.
A agência deixou claro ainda que, caso a avaliação do Brasil seja rebaixada, a nota da Petrobras deverá ser afetada também.
A agência reconheceu os esforços da estatal para aumentar a transparência, como o comunicado de que deve publicar os resultados auditados até abril, mas considera a hipótese difícil de ser atingida. "No entanto, a Moody´s não vê ainda nenhuma certeza concreta de que os balanços auditados fiquem disponíveis em alguma data particular"
A Petrobras está devendo até agora aos investidores o balanço auditado referente ao terceiro trimestre do ano passado. No dia 28 de janeiro, após dois adiamentos, o a estatal divulgou seus resultados, mas o documento não trouxe o aval da auditoria independente, nem os descontos referentes à corrupção, como previa a própria estatal.
A baixa contábil dos valores pagos indevidamente por conta do esquema de corrupção é uma exigência da PwC, que audita o balanço da estatal.
A Petrobras enfrenta dois problemas. Por um lado, a lei brasileira exige que as companhias apresentem em até 90 dias após encerrado o ano seus resultados. Por outro, se não divulgar seu balanço auditado até maio, os credores podem solicitar o pagamento antecipado de dívidas, o que colocaria a petroleira, que já está altamente endividada, numa situação financeira delicada.
A divulgação dos números de forma parcial e sem o selo da auditoria já havia feito com que a Moody's rebaixasse no dia 29 de janeiro a nota da estatal. Na ocasião, no entanto, a Petrobras ainda havia mantido o grau de investimento.
No início deste mês, a agência Fitch Rating rebaixou a avaliação da estatal e a colocou no último nível de grau de investimento. Segundo a agência, a iniciativa deu-se por conta da prolongada incerteza "em relação à habilidade da empresa de estimar as perdas decorrentes de corrupção".
Procurada para comentar a perda do grau de investimento, a Petrobras limitou-se a emitir nota comunicando o mercado sobre o rebaixamento e informando que "não há dívidas sujeitas a vencimento antecipado por causa da piora da nota".
HISTÓRICO
Em janeiro, a Moody´s já havia rebaixado todas as notas da Petrobras, citando preocupações com investigações sobre corrupção na estatal e possíveis impactos do atraso da divulgação do balanço auditado na saúde financeira da companhia.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
ALERTAS
Na última sexta-feira (20), analistas do banco JPMorgan haviam alertado sobre um "rebaixamento iminente" da companhia.
"A Moody's deve ser a primeira a agir, já que deu só até o fim do mês para que Petrobras mostrasse algum progresso sobre a publicação de resultados auditados", afirmaram em relatório.
"Apesar de esperar alguma queda nas ações no caso de um rebaixamento, acreditamos que no curto prazo (nos próximos dois meses) apenas a Moody's pode rebaixar a nota da companhia", afirmou a equipe do banco.
Nas duas outras principais agências de risco, Fitch e S&P, a Petrobras está a apenas uma nota de perder o grau de investimento.
O JPMorgan também alertou para a possibilidade de o governo ter de emprestar dinheiro para a Petrobras -via bancos públicos- ou garantir o pagamento das dívidas da companhia com títulos públicos caso.
Em entrevista à Reuters na semana passada, o analista da Moody's, Mauro Leos, afirmou que a Petrobras é um "potencial evento de alto risco" para a nota do Brasil, atualmente Baa2, que indica grau de investimento com risco de crédito moderado e é o segundo acima do grau especulativo, com perspectiva negativa.
De acordo com ele, a probabilidade de que seja necessária ajuda financeira para pagar as dívidas da companhia continua baixa, mas está aumentando por causa da demora na publicação dos resultados financeiros auditados.