Folha de S. Paulo


Empresa com elo político dá pior retorno, aponta estudo

No momento em que a Justiça começa a colocar a mão pesada sobre os empresários, com a Lava Jato, as companhias precisam repensar a estratégia de manter a proximidade com o governo, segundo pesquisadores da FGV que calcularam o efeito das conexões políticas sobre a performance das empresas de capital aberto.

Historicamente, companhias que desenvolvem aproximação com o governo por meio de doações a campanhas eleitorais costumam ter acesso preferencial a recursos financeiros, principalmente de bancos públicos.

Karime Xavier/Folhapress
Rodrigo Bandeira de Mello, professor da Eaesp FGV
Rodrigo Bandeira de Mello, professor da Eaesp FGV

Mas um novo estudo da FGV aponta que, apesar de tais empresas terem melhor acesso a financiamento, elas gerenciam esses recursos obtidos de uma maneira pior.

O professor Rodrigo Bandeira de Mello e as pesquisadoras Gisele Walczak e Marina Gama, da escola de administração da FGV, compararam dois grupos de empresas listadas, as ligadas e as não ligadas ao governo por meio de doações em eleições gerais desde 1998.

"A empresa conectada politicamente passa a ser vista na iniciativa privada como mais poderosa, pela possibilidade de ser ajudada pelo governo caso venha a sofrer crises", afirma Mello.

De acordo com os pesquisadores, porém, tais companhias acabam alocando parte dos recursos para trocar favores com os políticos com os quais possuem conexões, sem atender o objetivo de maximizar o valor da firma.

A evidência é contábil: seus lucros não necessariamente representam um bom caixa gerado na operação, ou seja, elas geram fluxos de caixa operacional em média mais baixos ou até mesmo negativos, explica Walczak.

"O fluxo de caixa operacional é usado para amortizar empréstimos, manter a capacidade operacional, pagar dividendos e fazer novos investimentos. Sendo ele insuficiente, a empresa necessitará captar mais recursos", diz.

Entre os exemplos citados, está a alocação de recursos em ativos de curto prazo, menos rentáveis, como um aumento dos estoques desnecessário.
Com tais práticas, a ideia é antecipar o ganho dos acionistas majoritários ou beneficiar os gestores.

"São empresas que precisam trocar algum favor. Elas acabam usando essa dívida não para aumentar o valor ao acionista, mas para satisfazer outros interesses, como entrar em projetos que não são tão atrativos, mas que garantem a relação com os políticos", diz Mello.

O efeito negativo das relações políticas na performance das empresas pode ser atenuado por meio de instrumentos de governança corporativa, segundo o estudo.

Especialistas em governança concordam que a transparência pode ajudar a preservar o desempenho.

"O ponto principal não é a doação em si, mas a transparência sobre o objetivo político dela. Quando essas motivações não são apresentadas de forma clara, pode haver desconfiança por parte dos acionistas e consequências negativas aos controles da empresa", diz Marta Viegas, conselheira do IBGC, instituto de governança.


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