Folha de S. Paulo


Economistas criticam meta baixa de inflação

Um quarto de século atrás, a Nova Zelândia foi o primeiro país a estabelecer uma meta formal de quanto os preços deveriam aumentar a cada ano: de 0 a 2%. Hoje, isso virou norma em grande parte do mundo.

Mas e se essa meta for um dos motivos pelos quais a economia global está tendo um crescimento lento há cinco anos?

A Lei do Banco Central da Nova Zelândia, promulgada em 1989, gerou polêmica. Sindicatos temiam que mirar principalmente a inflação causasse maior desemprego. Entretanto, isso logo mostrou resultados positivos: a inflação, que era de 7,6% no final de 1989, quando a lei foi aprovada, caiu para 2% no final de 1991.

Meramente por anunciar suas metas de inflação e dar autonomia ao Banco Central para atingi-las, a Nova Zelândia transformou isso em realidade. Em negociações relativas a salários ou ao planejar aumentos de preços, empresas e sindicatos da Nova Zelândia passaram a supor que a inflação ficaria em torno de 2%. Isso acabou se concretizando, com salários e preços subindo mais lentamente.

Outros países, incluindo o Canadá, a Suécia e o Reino Unido, adotaram essa estratégia. No entanto, sempre houve uma opinião divergente de que manter a inflação tão baixa poderia ser perigoso.

Na década de 1990, a então economista do Banco Central dos EUA Janet L. Yellen temia que isso fizesse o banco enfocar apenas a inflação e negligenciar o crescimento da economia e a geração de empregos. Ela também se preocupava que a inflação zero paralisasse a economia, sobretudo durante crises súbitas.

Em épocas difíceis, as empresas tendem a fazer cortes nos pagamentos dos funcionários. Na prática, porém, é mais provável que os empregadores reduzam a jornada de trabalho, apelem para demissões ou não contratem novos funcionários. Esse é um dos motivos pelos quais as recessões tendem a gerar mais desemprego, em vez de salários mais baixos.

A inflação ajuda a lidar com esse problema. Quando há inflação, os empregadores podem manter o pagamento dos trabalhadores em dia durante um período de crise, embora tenham que reduzi-lo em termos ajustados conforme a inflação. Um operário de linha de montagem pode continuar ganhando US$ 20 por hora em um período de crise, mas em termos ajustados pela inflação essa remuneração tem queda de 2% ao ano, o que pode diminuir a chance de fábricas recorrerem a demissões.

Outro argumento apresentado por Yellen era particularmente previdente. Quanto mais alta a inflação, mais os Bancos Centrais podem estimular a economia durante um período de crise.

"Um pouco de inflação permite que as taxas reais de juros se tornem negativas nas raras ocasiões em que isso é necessário para combater uma recessão", disse Yellen em 1996.

Certos economistas estão ponderando se uma meta mais alta de inflação teria permitido que as autoridades monetárias combatessem melhor a Grande Recessão, pois isso lhes permitiria reduzir mais as taxas de juros ajustadas pela inflação.

Laurence Ball, economista na Universidade Johns Hopkins em Baltimore defende elevar a meta para 4%. "Quaisquer efeitos adversos na economia por haver uma inflação de 4%, em vez de 2%", disse, "são triviais comparados aos efeitos de uma recessão como a que estamos enfrentando."

Outros temem turbulências em mercados financeiros e um aumento drástico e repentino nas taxas de juros de longo prazo que poderiam desacelerar o crescimento. Alan Blinder, ex-vice-presidente do Federal Reserve, tem a seguinte opinião: "As autoridades monetárias investiram muito e se revestiram de grande credibilidade em sua meta de inflação de 2%. Acho que elas têm razão em hesitar a abrir mão disso. Se você mudar de 2% para 3%, como o mercado terá certeza de que você não mudará de 3% para 4%?"

Ele reconhece que um número mais alto teria sido melhor no início. "Para muitos acadêmicos fixar uma meta de inflação foi um erro, de modo que é preciso desfazer isso e adotar outra estratégia", comentou. "Mas na prática nem sempre dá certo."


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