Folha de S. Paulo


'Não há intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado', diz Levy

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta sexta-feira (30), durante palestra em evento promovido pelo grupo Bradesco, em São Paulo, que "não há intenção de se manter o câmbio artificialmente valorizado" para favorecer as exportações brasileiras.

Ao ser questionado sobre os desafios do comércio exterior brasileiro nos próximos anos, Levy disse que as empresas precisam se tornar mais competitivas sem a ajuda do dólar.

"O câmbio não se controla tanto assim, não é uma variável que se vá fazer grandes operações por ali. É importante a capacidade de ser competitivo com o câmbio que reflete a nossa própria força", disse o ministro.

Levy citou como exemplo as empresas americanas, que consideram que o dólar forte é benéfico para o país. "Elas não ficam esperando cair do céu um dólar forte", disse. "Não se deve ficar esperando um grande auxílio, uma mágica que nós vamos fazer", emendou o ministro a uma plateia de empresários e investidores.

Segundo ele, a responsabilidade do governo na busca pela competitividade é dar segurança às empresas e "batalhar por uma redução de custos da porta da fábrica para fora".

O ministro citou algumas medidas que devem ser adotadas para melhorar a eficiência e a produtividade no país. Na área tributária, disse que o Executivo está disposto a ajudar os parlamentares a avaliar a proposta de reforma do ICMS que está no Congresso Nacional.

Em infraestrutura, disse que o governo pretende retomar as concessões de rodovias, ferrovias e principalmente de portos.

"Para este ano, temos que destravar a questão dos portos, com foco em aumentar a concorrência. Esse é o modo de baixar o custo [de transporte] da carga", frisou.

Apesar do momento de fraqueza na demanda, causada pela desaceleração da economia chinesa e das dificuldades econômicas na Europa, Levy disse que as empresas precisam estar preparadas para aproveitar a retomada, quando ela chegar.

"O petróleo mais baixo e essa ousadia monetária podem criar condições para a Europa crescer mais", disse Levy, lembrando a relevância desse mercado para as exportações brasileiras. "Temos que aproveitar, temos que ter ousadia", disse aos empresários.

O ministro defendeu uma maior abertura econômica, afirmando que a competitividade ajuda a melhorar a produtividade. "O aumento da proteção às vezes é acompanhado por queda na produtividade", avaliou.

JUROS DE LONGO PRAZO

Levy também reafirmou que o governo tem a intenção de fazer mudanças na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) com a finalidade de diminuir a discrepância entre essa taxa e a Selic. "A TJLP está sob análise, mas não há intenção de fazer nada brusco", disse ele.

Como ainda há um grande estoque de empréstimos a taxas antigas, o ministro sinalizou que as mudanças na taxa devem ser graduais. O primeiro aumento foi anunciado em dezembro do ano passado. A TJLP, que é adotada em 90% dos empréstimos do BNDES, passou de 5% ao ano para 5,5% no primeiro trimestre deste ano.

O ministro reiterou ainda que o desafio imediato do governo é estabelecer uma situação fiscal que dê tranquilidade a todos, o que também envolve cortar gastos do governo.

"O nosso trabalho é garantir o ambiente. E vocês, olhando o ambiente, vão tomar as suas decisões. Temos que ter capacidade de tomar riscos."


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