Folha de S. Paulo


Agência de risco Moody's rebaixa todas as notas da Petrobras

A agência de classificação de risco Moody's rebaixou todas as notas de crédito da Petrobras na noite de quinta-feira (29), citando preocupações com investigações sobre corrupção na estatal e possíveis impactos do atraso da divulgação do balanço auditado na saúde financeira da companhia.

"Atrasos na publicação de resultados financeiros trazem o risco de que os credores tomem ações que possam, eventualmente, levar ao aceleramento dos resgates", diz a Moody's em comunicado oficial.

As avaliações passaram de Baa2 para Baa3 e, segundo a Moody's, permanecem em revisão para mais um rebaixamento.

Com as notas nesse nível, a Petrobras mantém o chamado grau de investimento (chancela de empresa segura para se investir), mas fica a um passo de perdê-lo.

Segundo a agência, as notas da Petrobras continuarão em revisão para possíveis rebaixamentos.

"Notas adicionais vão considerar qualquer novidade sobre a investigação de corrupção em curso e o progresso da empresa na direção de uma produção normalizada de relatórios financeiros", diz a nota.

A agência diz que um novo rebaixamento pode acontecer se a Petrobras não demonstrar este progresso no próximo mês, na ausência de outras ações que reduzam as incertezas ao redor da pontualidade das obrigações financeiras da companhia.

OUTRAS AGÊNCIAS

Nem Fitch nem S&P mudaram a nota da Petrobras nem colocaram sob perspectiva negativa, ainda. A S&P não comentou.

Em nota, a Fitch disse que a decisão de adiar as baixas contábeis "não tem um impacto de crédito imediato", mas o "escândalo de corrupção em torno práticas de contratação da Petrobras tem o potencial de afetar negativamente sua qualidade de crédito e ratings" no futuro.

Apesar dos comentários, Fitch manteve a nota de crédito da Petrobras em BBB, penúltimo nível de grau de investimento, com perspectiva estável. A nota é a mesma do risco soberano do Brasil (BBB+).

Na S&P, a nota da Petrobras está em BBB-, último nível de grau de investimento e inferior à nota do país (BBB+).

REVISÃO PARA BAIXO

No dia 23 de dezembro, a Moody's colocou a nota de crédito da estatal em revisão para possível corte. Esse passo significava que a agência iria analisar nas próximas semanas informações sobre a empresa que poderiam embasar uma redução.

Editoria de Arte/Folhapress

A agência disse no mês passado que a revisão refletia preocupações quanto a potenciais pressões caso a companhia não cumprisse as exigências de publicação dos resultados financeiros, levando os investidores a acelerar os resgates.

A Petrobras havia adiado várias vezes a divulgação de seu balanço não auditado, o que finalmente ocorreu na quarta-feira (28).

BALANÇO

A estatal viu seu lucro despencar 38% no terceiro trimestre de 2014, em comparação com o trimestre anterior, de R$ 4,9 bilhões para R$ 3,1 bilhões. Em relação ao terceiro trimestre do ano anterior, o lucro caiu 9%.

O valor, contudo, não contabiliza o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato e nem a perda de valor recuperável de alguns de seus ativos por efeito do escândalo de corrupção. A companhia atrasou o balanço desde 14 de novembro justamente para a realização de tal ajuste.

As ações da petroleira repercutiram negativamente os números na BM&FBovespa. Os papéis preferenciais, mais negociados e sem direito a voto, despencaram 11,21%, para R$ 9,03 cada um. Já os ordinários, com direito a voto, tiveram desvalorização de 10,48%, para R$ 8,63. Ambos chegaram a cair até 12% cada um durante o dia.

Ricardo Borges/Folhapress
Coletiva da Petrobras para detalhar o balanço do terceiro trimestre de 2014
Coletiva da Petrobras para detalhar o balanço do terceiro trimestre de 2014

A estatal afirma em balanço que a metodologia que adotou para descontar o valor incorporado indevidamente como investimento, mas desviado em esquema de corrupção entre 2004 e 2012, mostrou-se "inadequada" e, por isso, recuou da promessa de subtrair o valor de seus ativos.

A fórmula, diz a Petrobras, tinha "elementos que não teria relação direta com pagamentos indevidos".

Em comunicado divulgado com o balanço, a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, reconhece a necessidade de ajustes, mas diz que é "impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da Companhia."

No documento, Foster disse que a fórmula criada, e posteriormente desprezada, apontava a necessidade de ajuste de R$ 88,6 bilhões em seus ativos, baixa que incluiria os custos atribuídos à corrupção, além de falhas e contingências nos projetos, dentre outros.

INVESTIMENTOS

Um dia após a divulgação do balanço, na quinta-feira (29), a presidente da estatal, Graça Foster, anunciou que irá cortar investimentos da companhia a ponto de reduzir a carteira de exploração de petróleo "ao mínimo necessário" e que irá também desacelerar o ritmo das obras das refinarias Comperj, em construção em Itaboraí, região metropolitana do Rio, e Abreu e Lima, em Pernambuco.

Graça fez a afirmação durante teleconferência com analistas para detalhar os resultados não auditados da empresa para o terceiro trimestre de 2014.

Durante a entrevista coletiva que se seguiu à teleconferência, o diretor de Exploração e Produção da companhia, José Miranda Formigli, afirmou que reduzir a exploração "ao mínimo necessário" significa dizer que a empresa não deverá entrar em leilões de novas áreas de petróleo este ano.

Com informações da Reuters


Endereço da página:

Links no texto: