Folha de S. Paulo


Dividendo pode ser suspenso em caso de 'estresse financeiro', diz Petrobras

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou, nesta quinta-feira, que o não pagamento de dividendos a acionistas é uma "alternativa que poderá ser considerada, dependendo da avaliação da situação financeira da companhia". Segundo ele, porém, a hipótese ainda não está "colocada".

Pouco depois, Barbassa disse que a situação de "lucro zero" poderia levar a empresa a suspender a remuneração aos acionistas.

Barbassa lembrou que a lei prevê uma remuneração mínima aos donos de ações preferenciais, com a garantia de distribuição de 25% dos lucros.

A baixa nos valores dos ativos que a empresa terá de fazer para descontar os montantes indevidamente pagos como investimentos, mas que foram para propinas, é uma situação que poderá ter grande impacto no resultado financeiro, uma vez que parte significativa dos descontos deverá ser lançada como despesa, abatendo o lucro.

"Há uma possibilidade que não está sendo neste momento ainda colocada, mas poderá sê-lo. Trata-se de uma situação que se julgada, na Lei das S.A. que, na situação de estresse financeiro, há possibilidade de não pagamento".

"Existe a alternativa de, não tendo lucro, naturalmente, não declarar dividendo. Tendo lucro, declarar dividendo e não pagar. Eu posso pedindo um prazo além do usual {para pagá-lo], jogar para o próximo ano ou coisa assim. E tem ainda a alternativa de, tendo lucro, eu não declaro dividendos mas, neste caso, fazer uma reserva especial, e essa reserva eu vou ter que pagar assim que a companhia tiver condições financeiras", disse Barbassa.

Segundo a Economática, pelo menos desde 1995, de acordo com o último registro disponível na consultoria, a empresa nunca havia deixado de pagar dividendos.

Barbassa participou de conferência com analistas de mercado conduzida pela presidente da empresa, Graça Foster, na sede da empresa, na tarde desta quinta-feira, no Rio.

AÇÕES EM QUEDA

As ações da Petrobras voltaram a desabar nesta quinta-feira (29), empurrando a Bolsa brasileira para o vermelho, ainda com avaliações negativas em relação ao balanço não auditado da companhia no terceiro trimestre de 2014, que não contabilizou perdas com corrupção.

Após caírem mais de 10% na véspera, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, tinham desvalorização de 5,09%, para R$ 8,57, às 11h30 (de Brasília). Já as ordinárias, com direito a voto, cediam 6,26%, para R$ 8,09.

Vanderlei Almeida/AFP
Trabalhadores de empresa que trabalha para a Petrobras
Trabalhadores de empresa que trabalha para a Petrobras fazem protesto em frente ao prédio da estatal no Rio

BALANÇO

A Petrobras divulgou na madrugada desta quarta-feira (28), após dois adiamentos, o balanço com os resultados do empresa no terceiro trimestre de 2014. A estatal viu seu lucro despencar 38% no período, em comparação com o trimestre anterior, de R$ 4,9 bilhões para R$ 3,1 bilhões. Em relação ao terceiro trimestre de 2013, o lucro caiu 9%.

O valor, contudo, não contabiliza o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato e nem a perda de valor recuperável de alguns de seus ativos por efeito do escândalo de corrupção. A companhia atrasou o balanço desde 14 de novembro justamente para a realização de tal ajuste.

A estatal afirma em balanço que a metodologia que adotou para descontar o valor incorporado indevidamente como investimento, mas desviado em esquema de corrupção entre 2004 e 2012, mostrou-se "inadequada" e, por isso, recuou da promessa de subtrair o valor de seus ativos. A fórmula, diz a Petrobras, tinha "elementos que não teria relação direta com pagamentos indevidos".

Como a Petrobras não fez o ajuste prometido, a empresa alerta que os números serão passíveis de revisão. O comunicado diz que a fórmula adotada ia realizar um ajuste "composto de diversas parcelas de natureza diferente, impossíveis de serem quantificadas individualmente", como câmbio, projeções de preços e margens de insumos e de produtos vendidos, entre outros.

SEM ORIENTAÇÃO

A ausência de baixas contábeis relacionadas às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato no balanço trimestral da Petrobras decepcionou analistas e investidores, que continuam sem uma orientação clara sobre o valor justo dos ativos da estatal.

A Guide Investimentos disse que o balanço foi "uma peça de ficção". Já a XP Investimentos questionou qual a utilidade do documento "se não tem baixa contábil".

Em relatórios, analistas apontaram que a companhia divulgou o balanço para atender as obrigações com credores, sem ter incluído a dimensão das perdas decorrentes do sobre preço de contratos que beneficiou ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos, segundo investigação do Ministério Público Federal.


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