Folha de S. Paulo


Criação de conselho de grupo de notáveis da Petrobras fica mais distante

A divulgação do balanço financeiro da Petrobras sem descontar prejuízos com corrupção fragiliza a presidência de Graça Foster e suspende o plano do governo de indicar um ''grupo de notáveis'' para o conselho de administração da empresa.

A avaliação é de ministros da presidente Dilma.

O balanço não contabiliza o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato nem a perda de valor recuperável de alguns de seus ativos por efeito do escândalo de corrupção.

Segundo assessores presidenciais, sem a divulgação do prejuízo, no entanto, os nomes ''estrelados'' não aceitarão integrar a estatal. Os números livres de desvios eram uma das condições dos nomes sondados pelo governo para ocupar cargos nos conselho de administração.

Eles querem se certificar de que não correriam riscos de enfrentar eventuais processos judiciais em caso de irregularidades passadas.

Entre os nomes cotados, estão Nildemar Secches (presidente do conselho de administração da BRFoods) e Josué Gomes (Coteminas).

BALANÇO

As empresas contratadas para ajudar a Petrobras a encontrar um valor que balizasse a subtração, no balanço da empresa, do que foi pago em propina e superfaturamento no esquema de corrupção na estatal, indicaram que ativos da companhia estavam avaliados em R$ 88,6 bilhões a mais que o que seria "justo".

O número, que representa 15% dos R$ 600 bilhões em ativo imobilizado da empresa, foi apresentado na reunião do conselho de administração, na terça, que aprovaria as demonstrações contábeis do terceiro trimestre, atrasadas desde 14 de novembro. Cálculos foram feitos por Deloitte e BNP Paribas.

O valor era a indicação da baixa a ser feita. Os cálculos também indicavam que havia ativos subavaliados em R$ 27,2 bilhões, mas, segundo pessoas próximas à gestão da empresa, esse aumento não poderia ser aplicado.

A metodologia verifica o quanto cada projeto valia na realidade, considerando a necessidade de investimento para erguê-los e a perspectiva de retorno financeiro.

A Folha apurou que a estudo mostrou que a refinaria de Abreu e Lima, cuja construção custou US$ 18,5 bilhões, vale só US$ 7 bilhões. O Comperj, com 70% das obras construídas e investimento total de US$ 13,5 bilhões, valeria zero.

A PwC, empresa que audita os balanços da Petrobras –e que vem se recusando a fazê-lo porque exige a baixa de propina–, considerou o modelo inadequado, por contemplar variáveis de mercado que inflavam o valor.

Conselheiros acabaram desistindo de fazer ajuste no terceiro trimestre, o que não evitou um impasse na reunião, de dez horas de duração.

Conselheiros do governo que costumam votar em bloco –os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman– defendiam que, como não ia ser usado, o número de R$ 88,6 bilhões não deveria ser apresentado.

Os demais conselheiros, entre eles Graça Foster, defendiam sua apresentação no relatório do balanço. Conselheiros independentes mostraram-se irredutíveis nessa posição, e os integrantes do governo acabaram dobrados.

A empresa decidiu divulgar as informações sem baixas de corrupção e sem aval dos auditores independentes, como exige a lei, para evitar o vencimento antecipado de dívidas, que ocorreriam na sexta-feira caso o documento não fosse apresentado.

Editoria de Arte/Editoria de Arte

Endereço da página: