Folha de S. Paulo


Conselho da Petrobras reúne-se no dia 27 de janeiro para aprovar balanço

Os dez integrantes do conselho de administração da Petrobras já têm uma data para discutir e aprovar as demonstrações financeiras do terceiro trimestre da companhia, atrasadas desde 14 de novembro do ano passado.

A Folha apurou que o grupo vai se reunir no dia 27 de janeiro para avaliar as demonstrações contábeis elaboradas pela companhia, ainda sem aval de sua empresa contratada de auditoria, a PwC, como exige a legislação do mercado de capitais. Tradicionalmente, a divulgação dos resultados da Petrobras acontece no mesmo dia em que os conselheiros assinam o balanço contábil.

O atraso se deve à necessidade de baixa nos valores de ativos inflados por contratos superfaturados, devido ao esquema de pagamento de propina revelado nas investigações da Operação Lava Jato.

É previsto, nesse balanço, uma "grande baixa nos ativos", referentes a tais descontos. Essa baixa será lançada como despesa, logo, há um risco potencial de grande impacto em seu lucro no período.

Em reunião nesta terça-feira (13), conselheiros de administração da Petrobras julgaram ser "possível" entregar o balanço auditado do terceiro trimestre em 30 de maio de 2015. A reunião foi presidida pela ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior. O presidente do conselho, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, não participou, sub justificativa de estar viajando. Seu nome ainda não foi substituído.

Mais do que uma expectativa, a data é uma necessidade, uma vez que, se não atendida, credores da Petrobras determinarão a antecipação do vencimento de US$ 70 bilhões em dívidas da Petrobras, segundo pessoa ligada à administração da Petrobras. Tal valor corresponderia a mais de 60% da enorme dívida da empresa, de R$ 307 bilhões.

Em outubro, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa relatou à Justiça a existência de um esquema de corrupção, com a participação de um grupo de empreiteiras, a partir de contratos firmados em grandes empreendimentos e negócios da companhia. Ele dirigiu a área de abastecimento entre 2004 e 2012.

Segundo Costa, as empreiteiras atuavam em cartel para fraudar licitações. Parte das propinas era desviada, de acordo com o depoimento, para partidos políticos. Um percentual adicional de 3%, de acordo com seu depoimento, era cobrado dos contratos para abastecer o esquema.

A denúncia levou a PwC a exigir da Petrobras, em outubro, o aprofundamento das investigações, sob pena de não assinar seu balanço do terceiro trimestre, e, em último caso, levar o caso às autoridades no Brasil e nos Estados Unidos, onde a Petrobras negocia ações.

O aval de auditores no balanço contábil é exigência feita às empresas que negociam ações pelas leis que regem o mercado de capitais. Credores também exigem apresentação das demonstrações auditadas, sob pena de determinarem o pagamento antecipado das dívidas.

Por este motivo, a Petrobras não pôde atender o prazo legal para divulgação do balanço auditado do terceiro trimestre, que era 14 de novembro. A baixa dos ativos será estimada a partir de "provas emprestadas" da Lava Jato, explicou em novembro a presidente da Petrobras, Graça Foster. O percentual de 3% seria um parâmetro para tal ajuste.

A reunião desta terça-feira durou mais de oito horas. Além da escolha do novo diretor de governança da Petrobras –o engenheiro João Elek– e do andamento das providências para fechamento do balanço, foram discutidos os cenários para a Petrobras este ano, diante dos preços de petróleo em queda e do dólar em alta.

Diversos cenários foram analisados. Nos mais pessimistas, com barril próximo do atual patamar de US$ 50 e dólar a US$ 2,70, a empresa será obrigada a buscar recursos no mercado, o que seria inviável sem um balanço auditado.

A expectativa da gestão da Petrobras, porém, é que os preços do petróleo se recuperem e fechem o ano a US$ 70 e dólar a US$ 2,58, cenário mais favorável à companhia.


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