Folha de S. Paulo


Lançamentos de ações devem voltar no ano que vem

Com apenas uma operação, 2014 foi o pior ano em lançamentos de ações no Brasil em uma década. Mas a entrada de empresas na Bolsa pode ser retomada caso as esperadas medidas da nova equipe econômica em 2015 sejam bem-sucedidas.

A avaliação é de analistas ouvidos pela Folha, que apostam em uma maior concentração de lançamentos na segunda metade do ano. O número de operações, no entanto, deve demorar a voltar ao nível de 2007, quando houve 64 IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês) na BM&FBovespa -na esteira do forte crescimento econômico do país.

"Existe um número grande de operações represadas, de empresas que não conseguiram ir ao mercado neste um ano e meio", diz Antonio Felix de Araujo Cintra, sócio na área de mercado de capitais do escritório TozziniFreire.

"Se o governo tomar as medidas necessárias para arrumar a economia, se as empresas e investidores começarem a ver uma perspectiva de médio para longo prazo de melhora, existe possibilidade de o mercado se abrir."

Editoria de arte/Editoria de Arte/Folhapress

A companhia aérea Azul já sinalizou a intenção de lançar ações na Bolsa brasileira e em Nova York. Em dezembro, a empresa entrou com pedido de abertura de capital -primeiro passo para fazer um IPO.

O resgate da credibilidade do governo diante dos estrangeiros também pode ajudar a impulsionar os IPOs, segundo James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital no Brasil. "Não dá para lançar ações sem os estrangeiros, que são os investidores com participação mais relevante nessas ofertas", avalia.

De acordo com a BM&FBovespa, os estrangeiros representavam, em dezembro, por volta de 54% do total de investidores na Bolsa brasileira. Até o dia 22, o saldo externo da Bolsa estava positivo em R$ 19,498 bilhões, impulsionado principalmente pela forte volatilidade do ano eleitoral, o que fez com que alguns ativos ficassem "baratos". No ano passado, o saldo foi de R$ 11,746 bilhões.

Para Gulbrandsen, o resgate da confiança do estrangeiro no governo brasileiro é importante para estimular a entrada de dinheiro no país.

A manutenção da nota de crédito do Brasil em grau de investimento é condição fundamental para isso, pois indica que é seguro investir no país. Alguns grandes fundos só podem aplicar em mercados com essa classificação.

"Quando falamos de emergentes, o Brasil está à frente de Rússia e China em termos de governança. Por isso, os estrangeiros ainda veem o Brasil de forma especial", diz Antonio Castro, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas).

SETORES

Empresas dos setores financeiro e educacional estão mais bem posicionadas, segundo analistas de mercado, para abrir capital no próximo ano.

As redes de ensino passam por um momento de consolidação. O segmento financeiro se beneficia do cenário de alta de juros.

A Caixa Econômica Federal, por exemplo, pode abrir capital e passar a ser listada em Bolsa em 2016, como antecipou a coluna "Mercado Aberto", da Folha.

Já as companhias ligadas a commodities e ao varejo devem ter um ano ruim. As primeiras devem ser afetadas pelo preço em queda das matérias-primas no exterior. A desaceleração do consumo deve frear lançamentos de ações de varejistas, diz Alfredo Ferrari, do escritório Siqueira Castro.


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