Folha de S. Paulo


Petrobras cai mais de 9% e afeta Bolsa; dólar renova maior valor desde 2005

Após ter começado o dia no azul, o principal índice da Bolsa brasileira inverteu a tendência para queda ainda pela manhã e fechou esta segunda-feira (15) no vermelho, acompanhando a forte aversão ao risco nos mercados internacionais.

O movimento seguiu uma virada nos preços do petróleo para baixo, que voltaram a atingir seu menor patamar em mais de cinco anos. O cenário negativo aumentou a demanda por aplicações consideradas mais seguras, como o dólar, fazendo com que a moeda americana ganhasse força sobre as principais divisas globais. Em relação ao real, o dólar voltou a atingir sua maior cotação desde março de 2005.

O Ibovespa teve queda de 2,05%, para 47.018 pontos. É o menor nível desde 19 de março deste ano, quando atingiu 46.567 pontos. O volume financeiro foi de R$ 10,977 bilhões, impulsionado pelo vencimento de opções sobre ações (quando termina o prazo de contratos que apostam no preço futuro dos ativos), que representou R$ 3,588 bilhões do total.

As ações preferenciais (mais negociadas, sem direito a voto) da Petrobras caíram 9,20% no dia, para R$ 9,18 cada uma. É o menor valor desde 14 de junho de 2004, quando custavam R$ 9,08 cada uma. Já as ordinárias (menos negociadas, com direito a voto, que têm a União como principal detentora) cederam 9,94%, para R$ 8,52 –menor preço desde os R$ 8,43 registrados em 5 de novembro de 2003.

Editoria de arte/Folhapress

Como chegaram a cair mais que 10% em relação ao preço de abertura, os papéis da Petrobras foram negociados em leilão durante um período da tarde –um procedimento da Bolsa brasileira de controle de risco.

Nessa operação, os negócios com as ações não são suspensos. A Bolsa recebe ordens de compra e venda e o diretor de pregão, a partir dessas ofertas, atualiza a cotação do papel após um período determinado (geralmente cinco minutos, que podem ser prorrogados). Como era um leilão para deter a forte queda do papel, as regras da Bolsa preveem que seriam registradas operações desde que o preço fosse igual ou melhor do que as melhores ofertas de compra e de venda do livro de ofertas da Bolsa no momento do leilão.

A ideia é reduzir a instabilidade da ação. O prazo máximo que a ação pode ficar em leilão, segundo o manual de procedimentos operacionais da BM&FBovespa, é de 15 minutos.

Os papéis da petroleira caíram após a empresa ter adiado novamente a divulgação de seu balanço não auditado, que estava previsto para a última sexta-feira (12), diante de novos escândalos de corrupção dentro da companhia. A queda no preço do petróleo na cena externa, além do corte em recomendações de grandes bancos –como o Credit Suisse– para os papéis da estatal, também pesou negativamente sobre as cotações.

"Atualmente a maior preocupação da Petrobras é na publicação do balanço, pois sem resultado não existe rolagem da dívida, nem possível captação via ações. O cenário é bastante complicado para a companhia e incerto. Seguimos não recomendando exposição ao ativo", diz o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, em relatório.

AVERSÃO CONTINUA

Para Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de recursos Invx Global, a aversão ao risco global deve continuar. "O mercado tem o mesmo contexto há dias. Três pontos são os principais: possibilidade de aumento nos juros nos EUA, sinalização do governo chinês de que haverá uma desaceleração do crescimento da China e novo patamar dos preços das commodities bem abaixo do que temos visto nos últimos anos", disse.

"O movimento é mais estrutural (perene) do que conjuntural. Não se deve esperar uma recuperação dos preços das commodites. Com o dólar mais forte, elas devem continuar assim, em um patamar mais baixo, nos próximos anos. O cenário é negativo para os emergentes, especialmente os exportadores, como Brasil, México, Rússia e África do Sul", afirmou Velho.

A avaliação do economista é que no Brasil, além da influência externa, o quadro é agravado por incerteza sobre o rumo da política econômica.

PAPÉIS

Também no vermelho, a Vale viu sua ação preferencial ceder 1,30%, para R$ 16, na esteira da queda recente nos preços do minério no exterior e corte nas projeções de analistas para o valor da matéria-prima no próximo ano. Sinais de desaceleração da economia chinesa, principal destino das exportações da companhia, continuam refletindo negativamente sobre o papel.

Em sentido oposto, as ações de siderúrgicas, que caíram fortemente nos últimos dias, reagiram no fim do pregão e dominaram a ponta positiva do Ibovespa. Os papéis preferenciais da Usiminas subiram 6,02%, para R$ 4,58 cada um. Já a ação da CSN avançou 2,42%, para R$ 4,65.

O setor financeiro pesou negativamente sobre o índice. Esse é o segmento com maior participação dentro do Ibovespa. O Itaú Unibanco perdeu 2,13%, para R$ 33,03, enquanto o Banco do Brasil caiu 4,82%, para R$ 22,11, e a ação preferencial do Bradesco mostrou desvalorização de 2,82%, para R$ 33,12.

Em nota, a agência de classificação de risco Fitch ressaltou nesta segunda que o setor bancário brasileiro enfrenta uma perspectiva negativa para 2015 refletindo a deterioração do ambiente operacional e da qualidade dos ativos.

DÓLAR BATE R$ 2,70

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 0,97% sobre o real, para R$ 2,688 na venda –maior cotação desde 29 de março de 2005, quando estava em R$ 2,701. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,28%, para R$ 2,685. Também é o valor mais elevado desde os R$ 2,698 registrados em 29 de março de 2005.

A moeda americana chegou a bater em R$ 2,701 durante o dia. Foi a quarta alta seguida do dólar, que tem ganhado força diante de indicadores econômicos melhores que o esperado nos EUA. O mercado teme que o BC americano possa começar a elevar os juros naquele país em breve, antes da previsão anterior, que era em meados de 2015.

A taxa de juros americana está em seu menor patamar (entre zero e 0,25% ao ano) desde 2008 a fim de estimular a economia daquele país após a crise. O Fed tem reunião nesta terça (16) e quarta-feira (17).

Um aumento nos juros dos EUA deixaria os títulos do Tesouro americano, que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco, mais atraentes que aplicações em países emergentes, como o Brasil. O receio é que o aperto monetário por lá cause uma fuga de recursos dos emergentes de volta para a economia americana.

Entre as 24 principais moedas emergentes do mundo, apenas quatro tiveram alta sobre o dólar: o won sul-coreano (+0,47%), o novo leu romeno (+0,08%), o novo soles peruano (+0,03%) e o peso argentino (+0,01%). No sentido oposto, o rublo russo foi o que mais se desvalorizou em relação à moeda americana, com queda de 9,58%.

ATUAÇÕES DO BC

Com expectativa de mudança na política monetária americana em breve, operadores se questionam se o BC brasileiro também adotará novas medidas de atuação no câmbio para evitar uma disparada do dólar quando os juros americanos de fato subirem.

Nesta segunda, o Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no mercado, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 196,8 milhões.

A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10.000 contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 489,6 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 55% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.

Houve reforço ainda de um leilão de linha de crédito de US$ 1 bilhão para injetar recursos novos no mercado. É uma operação em que o BC vende a moeda estrangeira, mas com a obrigação, por parte de quem toma o empréstimo, de devolver o dinheiro após um determinado período. Os empréstimos atendem a uma demanda de fim de ano por dólares, principalmente de exportadores.

EXTERIOR

Não foi só a Bolsa brasileira que teve um dia negativo. Os principais índices mundiais fecharam no vermelho, movidos pela preocupação com o petróleo, que ontem recuou mais 2%, para US$ 60. No ano, a cotação do barril caiu cerca de 45%.

Os mercado europeus estão entre os que mais sofreram: Frankfurt caiu 2,7%, Paris, 2,5%, e Londres, 1,9%.

No México, grande produtor de óleo, a queda foi de 3,3%, e, na Bolsa da Argentina, o recuo foi de 8,3%, influenciada pelo desempenho da Petrobras no país.

Editoria de arte/Folhapress

Endereço da página: