Folha de S. Paulo


Fazenda mais valiosa da falida Boi Gordo vai a leilão nesta segunda

A maior e mais valiosa propriedade da massa falida da Boi Gordo, a fazenda Realeza do Guaporé I e II, localizada em Comodoro (MT), vai a leilão nesta segunda-feira (15), mesmo dia que os ex-funcionários da empresa, que teve sua falência decretada há dez anos, começam a receber seus créditos trabalhistas.

O leilão está previsto para começar às 16h desta segunda-feira.

Com cerca de 130 mil hectares, tamanho próximo à área da cidade de São Paulo, a propriedade foi dividida em blocos e está avaliada em cerca de R$ 395 milhões.

Uma empresa especializada em serviços de geotecnologia e inteligência em agronegócios foi contratada para subdividir a área, de acordo com a sua vocação: produção de grãos, exploração de pecuária e área de mata para a compensação de reserva ambiental. São nove blocos, e as imagens aéreas e detalhes das propriedades podem ser vistas no site da massa falida site.

São cerca de 30 mil credores inscritos na falência de Fazendas Reunidas Boi Gordo, que aguardam a realização do último leilão do ano da massa falida para começarem a receber parte dos valores investidos, segundo informa o advogado Gustavo Sauer, síndico da massa falida.

"A previsão é de que no início do próximo ano já sejam pagos os cerca de R$ 50 milhões de passivo tributário e que já se inicie o pagamento dos créditos dos investidores, mediante rateio. O percentual vai depender do sucesso do leilão das propriedades que serão levadas à venda nesta segunda", afirma Sauer.

A ordem de classificação para pagar os créditos está prevista em lei e estabelece que se pague primeiros os créditos tributários, que são privilegiados e, por fim, os investidores, mediante rateio.

Editoria de Arte/Folhapress

PAGAMENTO AOS EX-FUNCIONÁRIOS

A partir desta segunda-feira (15), os 155 credores trabalhistas da massa falida também começam a receber seus direitos. No total, o valor atualizado é de R$ 70.153.744,08.

"Serão pagos os créditos dos que atenderam a convocação da Justiça para fornecerem os dados de suas contas e dos seus advogados para o depósito direto de seus créditos e de honorários. Os valores controversos, que ainda são objeto de discussão, foram reservados e serão pagos quando for solucionada a questão", afirma o advogado.

O valor médio dos créditos é de R$ 458 mil, e o maior é de R$ 4.398.234,52 de um ex-diretor da falida.

"Todos aqueles que tiveram o crédito reconhecido pela Justiça do trabalho, habilitaram o crédito na falência e que atenderam a convocação para informar os dados bancários devem aguardar o depósito dos valores em sua conta. É importante observar que esse valor é bruto e é de responsabilidade do credor o pagamento do Imposto de Renda sobre o valor recebido e da contribuição previdenciária (do empregado). Quem não informou os dados das contas receberá apenas quando prestar essa informação", explica Sauer.

ENTENDA O CASO

Aberta em 1988, a empresa Boi Gordo pediu concordata 13 anos depois. O investidor aplicava em animais e receberia após 18 meses o lucro da venda do boi engordado.

A promessa era 42% de rendimento via certificados de investimentos, muito superior a outras aplicações que existiam na época, o que atraiu cerca de 30 mil investidores. A lista de lesados inclui atores, atletas e até políticos.

O dinheiro foi aos poucos desviado para outros negócios do empresário Paulo Roberto de Andrade, criador da BG. E a empresa passou a funcionar com um esquema de pirâmide: pagava contratos vencidos com recursos de novos investidores.

Quando os saques superaram os investimentos, a pirâmide ruiu.

A Boi Gordo pediu concordata em outubro de 2001 e teve a falência decretada em fevereiro de 2004, com um passivo estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões em valores da época. Hoje, estima-se que chegue a cerca de R$ 4 bilhões.


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