Folha de S. Paulo


Contratação em escolas de elite imita critério de empresas

Claudia Ayoub, 23, jamais havia pensado em ser professora. Artista performática, ela monitorava um grupo de crianças na Bienal de São Paulo quando um ex-professor a viu. Impressionado, ele a convidou a voltar ao Colégio Bandeirantes, onde ela estudara, para ensinar arte.

Consultorias de marketing educacional ouvidas pela reportagem relatam que há uma preocupação cada vez maior das escolas de ponta em atualizar seus quadros incentivando a capacitação. Com a prática, as instituições ganhariam ao cultivar uma imagem pró-ativa, e o professor poderia planejar melhor a carreira e investir em conhecimento, seu instrumento de trabalho.

EDUCAÇÃO
Demanda por qualidade atrai investimentos

"Há o estigma do professor desvalorizado, o sistema educacional é ultrapassado e os salários são baixos. Não há muita gente jovem querendo se tornar professor. Sei que sou exceção", diz Ayoub. Ela teve apoio financeiro integral do Bandeirantes durante seu mestrado em Estudos da Performance, na Universidade de Nova York.

O colégio estima investir cerca de 2% de sua receita líquida em capacitação profissional. Lá, o salário para professores com dedicação exclusiva supera R$ 14.000. No departamento de espanhol, por exemplo, os professores participam frequentemente de cursos no exterior.

Escolas de elite em Brasília e Porto Alegre também patrocinam docentes em programas de mestrado nos EUA. Para Marcelo Maghidman, da Tafkid Marketing Educacional, as boas escolas estão mais próximas do mundo corporativo. "Não tenho dúvida de que o bom professor é inquieto, que investe em si mesmo e vai atrás de formação."

PLANO DE AULA

Em busca de se tornar referência em um mercado cada vez mais competitivo, instituições tradicionais ainda reclamam da dificuldade de recrutar novos profissionais.

Entre as estratégias utilizadas pelas escolas está acompanhar os rumos profissionais de ex-alunos -e muitos deles acabam voltando ao colégio como professores-, ou utilizar serviços de "head hunters", especialistas em buscar talentos no mercado.

O desafio seguinte é reter esses profissionais de destaque e evitar que eles se acomodem. Para isso, as escolas oferecem de incentivos a mestrado, doutorado e cursos livres para docentes a jornadas de trabalho flexíveis, para que o professor tenha condições de continuar estudando.

Segundo Zilda Zerbini, diretora do Colégio Palmares, também em São Paulo, a escola deve ver o professor como um profissional que deseja construir uma carreira.

"Quando encontram um ambiente mais arejado para o desenvolvimento profissional, esses professores mais dedicados conseguem aliar seus anseios de carreira ao prazer de ensinar", acredita.


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