Folha de S. Paulo


Grandes grupos do setor de educação estudam novos negócios

Um segmento econômico relativamente recente no Brasil, o setor de educação superior privada passou por um processo intenso de consolidação, com mais de cem fusões e aquisições nos últimos dez anos. Ainda assim, as chances de novos negócios não se esgotaram.

Desde o início de 2007 até o terceiro trimestre deste ano, o volume de negócios no setor ultrapassou a casa dos R$ 11 bilhões, com um total de 142 fusões e aquisições, segundo levantamento feito pela CM Consultoria.

EDUCAÇÃO
Demanda por qualidade atrai investimentos

"Dentre as cerca de 2.100 instituições presentes no mercado, 1.800 são de pequeno e médio porte, que ainda precisam crescer um pouco mais. Mas entre as outras 300, há aproximadamente 50 com resultados e gestões interessantes, que atraem os consolidadores", afirma Carlos Antonio Monteiro, presidente da CM.

O movimento de consolidação no país se intensificou a partir de 2007, com a compra de instituições brasileiras pelo grupo americano Laureate, que viria a expandir sua atuação no país nos anos seguintes. Grandes negócios vieram em sequência, liderados por nomes relevantes como Estácio, Pearson e Abril Educação.

Editoria de Arte/Folhapress

O grau de maturidade alcançado já permite prever negócios entre grupos gigantes, segundo Monteiro, como servem de exemplo a fusão entre Anhaguera e Kroton ou a compra da paulista FMU pelo grupo Laureate, anunciadas no ano passado, todas na casa dos bilhões.

As sinergias (ganhos resultantes da atuação conjunta) estão na economia de escala para compras de materiais didáticos, no aproveitamento de currículos entre as instituições, além da redução de gastos com propaganda nos casos das redes que não conservam as marcas originais sob bandeiras distintas.

"Mesmo com todo esse crescimento, este é um setor ainda pouco penetrado. A taxa líquida de escolarização no ensino superior no Brasil, de jovens entre 18 e 24 anos que estão na universidade, está em 18%. No Chile e Uruguai já fica em torno de 50%", afirma Fábio Figueiredo, diretor de desenvolvimento da Cruzeiro do Sul Educacional, grupo que abrange cinco instituições.

Muitas mudanças ocorreram nos últimos dez anos enquanto o setor evoluía, segundo José Roberto Loureiro, CEO da Laureate Brasil.

"A guerra de preços que ocorria no passado se mostrou ineficiente. O aluno ficou mais atento à qualidade, e o avanço do Fies [programa de empréstimos subsidiados] também tem ajudado muito, pois o aluno não podia pagar", diz Loureiro.

CLASSE MÉDIA

Outro fator que favoreceu a educação privada foi o avanço da classe média, de acordo com Virgílio Gibbon, diretor financeiro do grupo Estácio. "A partir de 2005, com o aumento da renda veio também o crescimento do número de matrículas", diz Gibbon.

"O aumento dessa renda da classe média junto com o crescimento da oportunidade de financiamento impulsionou as instituições." Para Marco Gregori, que comanda a Eduinvest, a expansão da classe média proporcionou aumento da demanda por ensino privado, que representa status.

O movimento de consolidação não se resumiu ao ensino superior e começa a dar os primeiros passos nos outros níveis da educação. "O mercado da educação livre, de cursos de idiomas, e a educação básica ainda tem muita oportunidade para consolidação", diz Monteiro.

O terreno já é bem explorado por grupos de maior porte como a Abril Educação, empresa de capital aberto que é a maior companhia no segmento de educação básica no Brasil. Tem em seu portfólio sistemas de ensino, livros, redes de cursos preparatórios e de idiomas.

Também favorece a consolidação o fato de muitas das famílias donas de colégios tradicionais já estarem na terceira ou quarta geração, cansadas do negócios e preparadas para passá-los adiante.

O grupo Eduinvest, que é dono dos colégios Anchieta e da Anhembi Morumbi, é um dos que entrou em fase de captação de recursos. Nos próximos anos, planeja comprar mais escolas.


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