Folha de S. Paulo


Primeiro dia de Eike na Justiça tem discussão, mensagens de amor e silêncio

Na primeira audiência como réu sob acusação de crimes financeiros nesta terça-feira (18), o empresário Eike Batista optou pelo silêncio.

Com uma equipe de quatro advogados e outros assistentes jurídicos, ele ouviu calado as acusações e discussões entre defesa e a procuradoria. Passou boa parte do tempo trocando mensagens pelo celular e tomando café.

Acusado de manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas, Eike pode ser condenado a penas de até 13 anos pelos crimes.

O empresário chegou ao auditório da Justiça Federal do Rio 30 minutos antes do início da audiência, acompanhado sua equipe de advogados: Sérgio Bermudes, Ary Bergher, Darwin Lourenço e Raphael de Mattos.

Ricardo Moraes/Reuters
Eike durante audiência na Justiça Federal do Rio
Eike durante audiência na Justiça Federal do Rio

Antes da chegada do juiz federal Flávio Roberto de Souza, Eike passou algum tempo ao telefone trocando mensagens de amor com uma mulher nomeada em seu celular como "Flavia linda e encrenqueira". As mensagens eram repletas de corações e da expressão "meu amor".

O empresário foi casado com Flávia Sampaio, com quem tem um filho de um ano e cinco meses. Ele não confirmou se ela era o destino das declarações.

Três testemunhas de acusação foram ouvidas: o superintendente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Fernando Soares Vieira, o economista José Aurélio Valporto, da Associação Nacional de
Proteção aos Acionistas Minoritários, e o ex-gerente da OGX Mauro Coutinho Fernandes.

O juiz dispensou outros depoimentos e marcou novas audiências para os dias 10 e 17 de dezembro. Eike só falará após todas as testemunhas, em data a ser marcada.

O depoimento mais quente do dia foi de Valporto. A defesa pediu que o juiz desconsiderasse seu testemunho, já que ele havia registrado uma queixa-crime no Ministério Público contra o empresário.

"Isso quer dizer que uma vítima de estupro não poderia depor contra o seu estuprador?", indagou o procurador José Panoeiro. Eike deu um sorriso para seu advogado. Antes, quando a defesa pressionou o servidor da CVM, seu advogado Ary Bergher lhe fez um sinal de positivo com o polegar.

O empresário não quis falar com a imprensa. Jornalistas o seguiram ao final do segundo depoimento, quando o empresário, de súbito, deixou o auditório. Ele só queria ir ao banheiro.

Falando em seu nome, a defesa reforçou o argumento de que não há provas. Eike, segundo seus advogados, também foi vítima do insucesso de sua empreitada.

Eike responde a uma segunda ação criminal na Justiça Federal de São Paulo. Ele é acusado de indução a erro no mercado financeiro e falsidade ideológica. O juiz federal Flávio Roberto de Souza, do Rio, disse que estuda juntar as duas ações.


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