Folha de S. Paulo


Empresas têm desafio de criar cultura e exigir disciplina para inovação

Definir exatamente o que é inovação e estruturar a cultura da empresa para que o processo de inovar não seja apenas um discurso da diretoria, mas uma prática contínua, são desafios para companhias brasileiras.

"A turma interpreta inovação como pesquisa e desenvolvimento, como algo tecnológico, então faz um laboratório bacana, mas que `as vezes não traz o retorno que se esperava", afirma Hugo Tadeu, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral.

INOVAÇÃO INDUSTRIAL
Incentivo à criação começa a se difundir

Também há oportunidades para inovar em produtos, serviços, processos ou sistemas que tenham características novas.

Um levantamento feito no ano passado pela Dom Cabral em conjunto com a Inventta Consultoria com 57 empresas indicou que as principais dificuldades enfrentadas pelas companhias no processo de inovação são a dificuldade de disseminar uma cultura e estruturar processos nessa direção –18% dos entrevistados apontaram dificuldades nesse sentido.

Para Tadeu, isso acontece porque a inovação ainda é um tema da alta direção, não sendo desdobrada para os demais níveis das empresas.

"Inovação é disciplina, um jeito de fazer negócio. Se não for implantado com cautela, pode virar só uma pena no vento", diz o consultor Moysés Simantob, autor de livros sobre o tema.

Há companhias, entretanto, em que há esforços para integrar as pessoas no processo criação. Paulo Matos, gerente de planejamento estratégico e inovação da Fiat Chrysler, conta que a companhia tem uma equipe de gestão da inovação que faz a articulação entre diferentes departamentos de acordo com o projeto.

Ele diz que em geral o processo de desenvolvimento começa "desestruturado, confuso, meio bagunçado", para depois começar a funcionar. Diferentes áreas são chamadas para criar conceitos, protótipos e modelos comerciais novos.

O processo fica mais complexo porque, além dos próprios funcionários, os consumidores têm mais voz no processo de desenvolvimento dos produtos.
"As ideias transformadoras não saem do nada. Elas nascem da percepção antecipada sobre a necessidade de um grupo relevante", diz Valter Pieracciani, consultor e especialista em gestão de inovação em empresas.

A Fiat tem feito alguns experimentos para que as pessoas indiquem sua visão sobre o que gostariam nos veículos. Em 2010, a empresa apresentou no Salão do Automóvel de São Paulo um carro conceito chamado FCC 3 que foi feito a partir de 10 mil ideias enviadas por usuários em um site.

No Salão deste ano, a empresa mostrou o projeto de um aplicativo chamado Uconnect Mobile, por meio do qual deve ser possível controlar sistema de som, GPS e contatos pessoais dentro do carro pelo smartphone. Não há data de lançamento, mas o objetivo de mostrar o app era colher a percepção dos usuários.

"A tendência é essa. Colocar mais rápido na na mão do consumidor para testar", diz Matos.

As organizações também começam a ficar mais abertas `a colaboração de institutos de pesquisa e pesquisadores independentes. Gerson Pinto, vice-presidente de Inovação da Natura, diz que havia "muros" que começam a ser derrubados. "Antes o processo era muito fechado."

Hoje, 89% dos projetos de tecnologia da companhia têm algum tipo de parceria.

A fabricante de cosméticos tem uma plataforma chamada Natura Campus, que tem no cadastro parceiros, centros de pesquisa e fornecedores, por exemplo. Ali, ela lança desafios específicos sobre algo que precisa desenvolver e recebe propostas de como fazê-lo. Ele diz que a linha de cremes antissinais Chronos teve parte do desenvolvimento associado `a plataforma.


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