Folha de S. Paulo


Cresce o risco de inflação neste ano superar teto da meta

As altas menos expressivas dos alimentos e dos transportes ajudaram a desacelerar a inflação oficial de outubro, mas o reajuste da gasolina e do diesel deve forçar o IPCA nos próximos dois meses e contribuir decisivamente para que o índice feche o ano acima do teto da meta (6,5%).

É o que dizem analistas consultados pela Folha, para quem, além do impacto da alta dos combustíveis -de 3% para gasolina e 5% para diesel-, a inflação em novembro e dezembro também terá reflexo da valorização do dólar, dos reajustes de energia e de um aumento do preço dos alimentos "in natura" típico de fim de ano.

O IPCA de outubro ficou em 0,42%, abaixo do verificado em setembro (0,57%) e também da projeção média dos analistas consultados pela agência Bloomberg para o mês passado, de 0,48%.

Editoria de Arte/Folhapress

A despeito da desaceleração, o índice acumulado nos 12 meses encerrados em setembro atingiu 6,59%, variação que superou, pela quarta vez no ano, o teto da meta estabelecida pelo governo, mas que ficou abaixo da projeção dos analistas, de 6,66%.

Segundo a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, para cada 1% de reajuste de combustível na bomba, há impacto sobre o IPCA geral de 0,04 ponto percentual.

O aumento divulgado na quinta pela Petrobras é na venda do produto pelas refinarias aos postos. O preço na bomba, cobrado do consumidor final, não é regulado. Ainda que não haja regra, o repasse gira entre 70% e 100% do reajuste dado na refinaria.

No aumento de combustíveis do ano passado, no final de novembro, o percentual foi repassado de forma integral ao consumidor. O analista da LCA Fábio Romão disse acreditar que isso se repita.

Ele calcula que, devido ao aumento, a inflação fechará este ano 0,5 ponto percentual acima do teto da meta, em 6,55%. Romão diz que o reajuste da gasolina tem impacto mais imediato e direto no IPCA do que o do diesel. A gasolina pesou 3,75% no IPCA de outubro, ante 0,14% do diesel, de acordo com o IBGE.

A alta da gasolina é diretamente perceptível pelo consumidor. Já o diesel tem seu aumento percebido de forma indireta e mais diluída entre outros produtos.

Mais caro, o combustível utilizado pelos caminhões encarece os transportes de quase todos os produtos da economia brasileira, baseada principalmente em transporte de carga via rodovias.

Romão faz um cálculo um pouco diferente do do IBGE. Sua conta mostra que o impacto da alta da gasolina no IPCA será de 0,10 ponto percentual, divido em 0,08 ponto em novembro e 0,02 ponto em dezembro. O diesel terá um impacto total maior, de 0,13 ponto percentual, dos quais apenas 0,01 ponto neste ano e o resto nos seis primeiros meses de 2015.

"A impressão que me dá é que o governo decidiu fazer os ajustes logo neste ano para buscar ficar abaixo do teto de inflação só no ano que vem. A ideia seria tomar medida menos populares agora para começar o ano que vem menos pressionado."

A analista da consultoria Tendências Adriana Molinari, que, antes do reajuste, estimava um IPCA de 6,4%, revisou a previsão para 6,5%.


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