Folha de S. Paulo


Em SP, hortas se formam sob fiações

José Aparecido Cândido Vieira, 64, trabalhou por 40 anos como vendedor no centro de São Paulo. Cansado do deslocamento diário e do salário baixo, trocou o emprego por uma horta sob linhas da Eletropaulo que correm por descampados em São Mateus, zona leste da capital.

Com a plantação urbana, na qual cultiva hortaliças e plantas medicinais de maneira orgânica, fatura, em média, R$ 1.200 mensais. Segundo ele, a renda varia, mas a qualidade de vida aumentou.

"Não é muito, mas estou perto de casa e tomo conta a hora que eu quiser", diz.

Além do comércio local, a horta de Vieira abastece a cozinha de amigos. Segundo sua mulher, Catarina, 57, o acesso a alimentos orgânicos aumentou e a economia na feira chega a R$ 100 mensais.

Eduardo Knapp/Folhapress
José, a filha Adriana e a mulher, Catarina, trabalham na horta da família, em São Mateus
José, a filha Adriana e a mulher, Catarina, trabalham na horta da família, em São Mateus

Diante da tendência orgânica que ganha força em São Paulo, Vieira acha pequeno o incentivo da prefeitura a produtores urbanos e defende o uso de pequenos terrenos ociosos da cidade.

Ao todo, 460 agricultores recebem auxílio do Proaurp (Programa de Agricultura Urbana e Periurbana), com orientação técnica, insumos e sementes, diz a prefeitura.

Os Vieira não estão entre eles, mas estão entre as cerca de cem pessoas beneficiadas pela ONG Cidade Sem Fome, que, por meio de comodato, disponibiliza espaços públicos ou privados e fornece a estrutura para o cultivo.

Segundo o fundador da ONG, Hans Dieter Temp, 49, o projeto nasceu pela necessidade de dar funcionalidade a espaços ociosos e trazer benefícios financeiros às comunidades. Hoje 21 hortas urbanas são auxiliadas pela ONG, espalhadas por terrenos como os da Eletropaulo, onde são proibidas edificações, e por pequenas propriedades particulares. De tudo produzido, 97% são vendidos.

"A ideia é gerar dinheiro com os produtos. A horta tem que ser um negócio para eles", afirma. Segundo Temp, técnicos capacitam os agricultores e distribuem sementes e adubo. "Também buscamos canais de comercialização. Com 12 meses, as hortas devem ser autossuficientes."

Temp diz que além do ganho econômico as hortas tornam os orgânicos acessíveis.

NA LAJE

É para popularizar esses produtos que Camila Costal, 24, dedica-se totalmente à agricultura urbana. Com três pessoas, mantém uma horta numa laje no Jaçanã (zona norte), onde produz 80 variedades vegetais. "A plantação é um meio de se reconectar à produção e decidir o que comer. E é uma ótima terapia."

Couve, beterraba e cenoura brotam de caixotes e pneus. "A agricultura urbana é viável. Dá para ter uma minicultura em apartamentos ou em pequenos espaços. O segredo é otimizar."


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