Folha de S. Paulo


Cutrale-Safra compra produtora de bananas Chiquita em acordo de US$ 1,3 bi

O grupo formado pela empresa de suco de laranja Cutrale e o banco Safra concordou em adquirir a empresa produtora de bananas com sede nos Estados Unidos Chiquita, em um acordo avaliado em US$ 1,3 bilhão.

A Cutrale-Safra vai adquirir a Chiquita por US$ 14,50 por ação, a última proposta feita pelo grupo, o que avalia a empresa em cerca de US$ 682 milhões.

A Chiquita disse que acordo foi aprovado por unanimidade pelo seu Conselho de Administração.

O Cutrale-Safra venceu uma batalha que durou quase três meses pelo controle da empresa da Carolina do Norte, que rejeitou três ofertas anteriores e tentou uma fusão com a irlandesa Fyffes.

Uma vez o negócio concluído, a Chiquita será uma unidade controlada integralmente pelo Cutrale-Safra, segundo o comunicado.

"Para assegurar que a Chiquita tenha a melhor e mais sustentável plataforma neste setor, a Chiquita poderá acessar a grande experiência do Cutrale-Safra em todos os aspectos da cadeia de valor de frutas e sucos e sua ampla experiência financeira", acrescentou o comunicado.

A aquisição é uma vitória para o banqueiro brasileiro de origem libanesa Joseph Safra e para o barão do suco de laranja José Luís Cutrale, que uniram forças para acrescentar a Chiquita ao seu portfólio de negócios, que já inclui laranja, maçãs, pêssego, limão e soja.

Chiquita, Fyffes, Fresh Del Monte Produce e Dole Food controlam o mercado global de bananas, avaliado em US$ 7 bilhões anuais.

As ações da Chiquita subiram mais de 40% desde 11 de agosto, quando o Cutrale-Safra tornou pública sua intenção de assumir o controle da empresa.

Na sexta-feira (24), as ações da Chiquita fecharam em US$ 14,16.

David Paul Morris/Bloomberg
Homem entrega caixas de bananas da Chiquita em Chinatown, São Francisco
Homem entrega caixas de bananas da Chiquita em Chinatown, São Francisco

O Cutrale-Safra também irá assumir as dívidas da Chiquita, com uma unidade do grupo Safra, o banco J. Safra Sarasin AG, ampliando a recompra de títulos de dívida emitidos pela Chiquita com vencimento em 2021.

O negócio ocorre em meio ao esforço de Safra, o banqueiro mais rico do mundo com uma fortuna de US$ 16 bilhões, de diversificar seus investimentos além do setor bancário, financeiro e imobiliário.

Já Cutrale e sua família, que enfrentam o declínio global no consumo de suco de laranja, têm ampliado atuação em novas regiões e produtos, depois de entrarem no negócio de comercialização de grãos em anos recentes.

"Nós esperamos trabalhar com o Cutrale-Safra para garantir uma transição suave e uma transação completa o mais rápido possível", disse o presidente-executivo da Chiquita, Ed Lonergan, segundo o comunicado.

A transação está sujeita à aprovação de órgãos regulares e a expectativa é que esteja concluída no início de 2015.

FYFFES

Na sexta-feira (24), os acionistas da Chiquita Brands International rejeitaram a proposta da produtora de bananas para adquirir a rival irlandesa Fyffes.

Ao anunciar o resultado da votação, a Chiquita informou que iniciaria conversações com o grupo de interessados brasileiros.

A votação de sexta-feira contrariou o plano da Chiquita para adquirir a Fyffes e surge depois de um esforço de meses de duração durante o qual a companhia tentou conduzir uma operação de inversão tributária, mas terminou bloqueada por conta do surgimento das propostas dos brasileiros.

NOVELA

A saga do negócio começou em março, quando a Chiquita fechou acordo para adquirir a Fyffes por US$ 526 milhões em uma tentativa de criar a maior fornecedora e distribuidora mundial de bananas. Um acordo com a Fyffes teria expandido muito o alcance da Chiquita na Europa, criando uma companhia mundial com faturamento de cerca de US$ 4,6 bilhões anuais.

O acordo original foi acertado em meio a uma corrida para as chamadas transações de inversão, sob as quais companhias americanas compram rivais de menor porte no exterior e transferiam suas sedes ao país da empresa adquirida, a fim de reduzir sua carga tributária.

A Chiquita foi a primeira companhia de alimentos a tentar esse tipo de transação, seguida pela rede Burger King, que adquiriu a cadeia canadense de cafés Tim Hortons.

Tudo estava indo de acordo com o plano para a Chiquita, até agosto, quando o grupo brasileiro surgiu com uma oferta em dinheiro. Originalmente eles ofereceram US$ 13 por ação, ou cerca de US$ 611 milhões, o que representava ágio de 29% ante a oferta da Chiquita, ao preço de suas ações naquele momento.

O grupo Cutrale, atacadista brasileiro de frutas pouco conhecido internacionalmente, liderava a oferta, e propunha fechar o capital da Chiquita. As operações da produtora de bananas se enquadrariam às operações de venda de laranjas, maçãs e pêssegos da Cutrale.

A brasileira contava com o apoio do grupo Safra, companhia de investimento de capital fechado controlada pelo bilionário Joseph Safra. Mais conhecido pelo Safra National Bank, de Nova York, o grupo inclui também o Banco Safra, no Brasil; o Bank Jacob Safra, na Suíça; e imóveis e terras agrícolas. O Safra tem mais de US$ 200 bilhões sob administração, com investimentos na América do Norte e do Sul, Europa, Oriente Médio e Ásia.

OFERTA DEFINITIVA

Duas semanas atrás, o grupo Cutrale-Safra apresentou um lance que definiu como definitivo, elevando a oferta de US$ 13 a US$ 14 por ação.

Isso levou as duas principais companhias que estavam oferecendo consultoria aos acionistas sobre a transação a divulgar pareceres antagônicos. A primeira, Institutional Shareholder Services (ISS), sugeriu que os investidores da Chiquita aprovassem a aquisição da Fyffes, e a segunda, Glass Lewis, aconselhou os acionistas a rejeitá-la, essencialmente endossando a oferta do grupo Cutrale-Safra.

Mas os brasileiros ainda não tinham desistido. Na quinta-feira (23), horas antes da assembleia especial de acionistas da Chiquita, o grupo Cutrale-Safra elevou sua oferta uma última vez, para US$ 14,50 por ação.


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