Folha de S. Paulo


Falta d'água causa alta no faturamento de empresas

A rede de lavanderias 5àsec teve aumento de 80% na demanda média por lavagem de roupas na cidade de Guarulhos nos últimos dois meses.

A elevação da procura pelo serviço se deve ao racionamento de água na cidade, anunciado em março deste ano. Na zona norte de São Paulo, o aumento foi de 18%, e na zona sul, de 15,7%, segundo Sérgio de Souza Carvalho, diretor de marketing da rede.

A crise hídrica vivida no Estado de São Paulo trouxe oportunidades para negócios que usam pouca água ou que podem servir de socorro quando a torneira das casas secam.

Segundo Paulo Branco, vice-coordenador do GVces (Centro de Estudos em sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), a demanda deve se manter em alta mesmo após a crise.

Isso acontece devido ao aumento da conscientização da população sobre a escassez dos recursos e a diminuição do preconceito em relação a opções mais sustentáveis.

Um empreendedor que usou a situação a seu favor foi José Roberto de Faria, 50. Ele conta que, depois de anunciar lavagem de automóveis com 50% de desconto em um carro de som, está tendo de dispensar clientes de seu lava-rápido aberto há três meses, tamanha a quantidade de interessados.

Localizado em Mauá (Grande São Paulo), sua unidade da franquia AcquaZero não está sofrendo com o racionamento de água anunciado pela prefeitura em setembro -a empresa oferece o serviço de lavagem a seco.

Para atender a demanda maior do que esperada, Faria deve contratar mais três funcionários para sua equipe de sete pessoas e ampliar o período de atendimento.

O português Nuno Calado, 36, diretor de expansão internacional da rede House Maid, franquia que oferece serviço de limpeza residencial, diz ter sentido uma mudança de cultura provocada pela crise.

Quando a rede chegou ao Brasil, no final do ano passado, era mais difícil convencer a clientes e candidatos a franqueados que suas faxinas usavam pouca água: são cerca de 20 litros para um apartamento de 90 metros quadrados, em vez dos 300 litros usados em faxinas comuns.

Para conseguir isso, o segredo é aspirar o chão primeiro e depois limpá-lo com um pano feito por microfibras entrelaçadas que são importados da Noruega. Quem faz a limpeza usa água apenas para molhar o pano.

Ele conta que a empresa nasceu como uma companhia de faxinas normal em Portugal, no ano 2000. Decidiram buscar uma solução sustentável para o negócio pelo fato de o país estar passando naquele ano por um racionamento de água.

SOCORRO

Patrícia Moura, 53, conta ter percebido um aumento de cerca de 10% neste mês na procura pelo serviço da sua unidade da lavanderia Quality em Moema, zona sul de São Paulo.

Porém o que teve de ganho com a seca deve ser usado para compensá-la: Moura está instalando uma segunda caixa d'água na loja, com custo de R$ 1.200.

"Tento não pensar no que vou ganhar, mas, sim, em um cidadão que está sem água e vai precisar da lavanderia como um socorro."


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