Folha de S. Paulo


Prevendo crise hídrica em SP, empresas investem em outros Estados

Prevendo a escassez severa de água, empresas que são dependentes do recurso passaram, há cerca de um ano, a direcionar investimentos para regiões fora de São Paulo.

As indústrias de bebidas e de papel e celulose intensificaram neste ano o movimento e, com isso, estão conseguindo manter os planos de expansão da produção.

Associações desses setores afirmam que as companhias preveem o esgotamento do sistema hídrico paulista há ao menos dois anos e que os planos de abrirem fábricas em outros Estados, principalmente no Sul, foram os meios encontrados para se protegerem de uma possível crise.

Duas gigantes das bebidas puxam o carro dos investimentos no sul do país.

A partir do segundo semestre de 2013, Coca-Cola e Ambev passaram a investir juntas mais de R$ 2,4 bilhões em plantas no Paraná.

Anderson Prado/Folhapress
Barragem no rio Jundiaí (SP); fabricantes de bebidas dependem do nível dos rios
Barragem no rio Jundiaí (SP); fabricantes de bebidas dependem do nível dos rios

Por meio da Coca-Cola Femsa, a companhia americana comprou a Spaipa, uma antiga engarrafadora licenciada da marca, por R$ 1,8 bilhão, e está ampliando sua capacidade.

A aquisição pode ajudar a Coca-Cola a migrar temporariamente parte da produção paulista para o Paraná, onde estão baseadas as principais plantas da Spaipa, disse um consultor da companhia.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Coca-Cola afirma que não implementou a medida, mas que ações para mitigar os efeitos da crise hídrica estão sendo estudadas.

A Ambev, por sua vez, inaugurou uma fábrica em Ponta Grossa, que consumiu investimentos de R$ 580 milhões, segundo a prefeitura.

A companhia afirma que os investimentos na região fazem parte de um plano global de expansão da produção.

"Essa migração é mais fácil para as grandes empresas. Para as pequenas, só é possível a terceirização, o que reduz a qualidade", diz Fernando de Bairros, presidente da Afrebras, associação que reúne produtores de refrigerantes e cervejas.

Os maiores problemas enfrentados por essas empresas está no aumento de custos no tratamento da água captada dos rios. Quanto mais baixo o nível do rio, mais lama e sujeira são captadas junto.

ÁGUA NO PAPEL

As companhias de papel e celulose também enfrentam problema semelhante.

Segundo Nei Lima, da ABTCP (Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel), empresas estão saindo de São Paulo e rumando para Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Nordeste.

Os primeiros esforços do setor foram no sentido de reduzir o uso da água na produção. Agora, estão em busca do insumo em si.

"Com o avanço da tecnologia, o setor conseguiu reduzir o consumo de água de 200 metros cúbicos por tonelada para 20 metros cúbicos", diz.

"Mas as empresas que estão um pouco mais defasadas estão sofrendo. Os órgãos públicos estão reduzindo os valores permitidos de captação de água", continua.

Uma das políticas de redução do uso da água deve impactar as empresas localizadas na bacia hidrográfica PCJ -as cidades de Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

Até o final do ano, a Agência Nacional de Águas publicará um plano de racionamento para essa região, que entrará em vigor quando o sistema Cantareira tiver menos que 5% do volume útil -o que já acontece- e quando as vazões dos rios estiverem abaixo de 4 m³/s no alto Atibaia, 2 m³/s no baixo Atibaia e 3 m³/s no rio Jaguari.


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