Folha de S. Paulo


Brasil é obcecado demais com combate à inflação, diz economista americano

O Brasil é obcecado demais com o combate à inflação. Essa é a opinião do economista Mark Weisbrot, do Center of Economic and Policy Research, de Washington, que divulgou nesta segunda-feira (29) um relatório sobre a evolução da economia brasileira desde o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.

No artigo, Weisbrot ressalta a redução da pobreza no período, de 35,8% da população para 15,9% em 2012 e o aumento dos gastos sociais do governo, em especial com o programa Bolsa Família. Trata também do crescimento do PIB e da redução no desemprego na última década.

"As vidas de milhões de brasileiros foram transformadas por mudanças nas políticas econômicas e sociais na última década", diz o relatório.

Para ele, no entanto, o ciclo de aperto monetário e fiscal que começou em 2010 foi o principal responsável pelo quadro de baixo crescimento econômico registrado no país desde então.

"De 2010 a 2011, o crescimento do PIB e do comércio mundiais caiu bastante. Como resultado dessas mudanças externas, o valor real das exportações brasileiras cresceu apenas 4,5% em 2011 e 0,5% em 2012, em comparação com uma alta de 11,5% em 2010", afirma o texto.

Neste mesmo período, o governo deu início à elevação da taxa básica de juros, a Selic –que subiu de 8,75% ao ano em março de 2010 para 12% em setembro de 2011– e implementou uma série de medidas chamadas de macroprudenciais para desacelerar a alta do crédito. Também houve um esforço para elevar o superavit primário (receitas menos despesas do governo).

"Em 2011, quando elevaram a taxa de juros em resposta à inflação, o aumento de preços era externo. Ou seja: a medida não foi apropriada nem efetiva. Eles são muito obcecados por essa meta de inflação. E estão sacrificando o crescimento econômico com muita frequência por causa disso", afirmou Weisbrot à Folha.

"Não é uma boa política. É claro que eles têm de se importar com a inflação, quando a economia está superaquecida, por exemplo. Mas esse não tem sido o caso nos últimos anos."

Para Weisbrot, a solução atual para elevar o crescimento econômico no país seria não ter uma meta de inflação, reduzir as taxas de juros e adotar uma política fiscal expansionista. "O Brasil não tem um problema de balanço de pagamentos, nem perto disso. Então a economia pode crescer mais rápido", disse.

Questionado sobre a pressão do mercado por um ajuste fiscal na economia, ele afirmou que "sempre haverá quem queira dirigir a economia com um pé no freio."

"Você sempre vai ter esse problema no mundo industrializado. Olhe a Europa, eles têm a mesma briga lá, e eles tiveram dois anos a mais de recessão do que os Estados Unidos, que foram o centro da crise", destacou.

"Nós [EUA] nos recuperamos muito rapidamente, tivemos uma recessão que durou um ano e meio. E por quê isso? Porque tivemos um banco central que agiu diferente do europeu e também do brasileiro, comprometido com o emprego. Eles sabiam o que era necessário para restaurar o crescimento econômico e o fizeram."


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