Folha de S. Paulo


Emilio Botín deixa legado de expansão global no comando do Santander

O empresário Emilio Botín foi o terceiro de sua família a comandar o Grupo Santander e teve papel ativo na consolidação do banco como uma das maiores instituições financeiras do mundo. Botín morreu aos 79 anos nesta terça-feira (9), vítima de um ataque cardíaco.

O executivo nasceu na cidade espanhola que dá nome ao banco, em 1º de outubro de 1934, mesmo ano em que seu pai, Emilio Botín-Sanz, assumiu o cargo de diretor-geral da entidade.

O empresário espanhou mudou-se para Bilbau para estudar na Universidade de Deusto, uma das mais conceituadas do país. Foi na cidade do País Basco que Emilio conheceu sua mulher, Paloma O'Shea Artiñano, com a qual se casou em 1958. Os dois tiveram seis filhos nas décadas de 60 e 70: Ana Patricia, Carolina, Paloma, Carmen, Emilio e Francisco Javier.

No mesmo ano em que se casou, Emilio começou a trabalhar no banco de sua família. Em dois anos, passou a integrar o conselho de administração do grupo e aos 30 se tornou diretor-geral da instituição. A carreira no banco fez com que o executivo passasse por diversos cargos de gerência, como vice-presidente (1971) e conselheiro delegado (1977).

Emilio chegou à presidência do banco em 1986, após a saída de seu pai do cargo. No mesmo ano, Botín-Sanz também deixou o Bankinter, passando o cargo de presidente a seu outro filho, Jaime.

EXPANSÃO

Sob a gestão de Emilio, de perfil centralizador, o Santander deu início a um processo de internacionalização e se tornou o maior banco da Espanha.

A incursão internacional ganhou força em 1987, com a compra do CC Bank (o então Bankhaus Centrale Credit) na Alemanha. Depois, o Grupo Santander firmou parceria com o The Royal Bank of Scotland (1988) para ganhar espaço na Escócia. Nos anos seguintes, o Santander comprou participação no Instituto Bancario Italiano (1989) e no First Fidelity (1991), dos Estados Unidos.

Na Espanha, criou a conta corrente "Supercuenta", que ajudou a popularizar o banco no país. Ela oferecia juros de 11% sobre o dinheiro à vista dos correntistas e ajudou a entidade a conquistar clientes da concorrência, multiplicando os seus depósitos.

Em 1994, o Santander adquiriu o Banesto e se consolidou como a principal instituição do mercado financeiro espanhol. Sua filha, Ana Patricia, assumiria o cargo de presidente do Banesto entre 2002 e 2010, antes de ser transferida ao comando do Santander UK, no Reino Unido.

Em 1999, a instituição financeira realizou uma fusão com o banco Central Hispano, na primeira grande operação do tipo desde a instauração do euro como moeda regional.

A expansão global teria continuidade na década seguinte, com a aquisição de bancos como o britânico Abbey, o sexto maior do Reino Unido, por 12,5 milhões de euros. Com a compra, o espanhol vendeu sua participação no The Royal Bank of Scotland.

AMÉRICA LATINA

Emilio também liderou o processo de expansão do Santander na América Latina na década de 90, com a compra de bancos no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Peru, Venezuela e México.

No Brasil, o Santander adquiriu o Banespa, que foi privatizado em 2000 durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Posteriormente, a participação do grupo espanhol no mercado brasileiro seria acrescida pela compra do banco Real.

Marcelo Sayão/Efe
O presidente do banco Santander, Emilio Botín
O presidente do banco Santander, Emilio Botín

Esta segunda operação, feita em 2007, foi resultante da aquisição e fatiamento da holandesa ABN Amro pelo Santander, o The Royal Bank of Scotland e a belga Fortis. À época, o consórcio pagou mais de 71 bilhões de euros pelo negócio, que foi considerado o maior da história do setor financeiro.

Na última década, contudo, Emilio optou por vender as operações em alguns países, adotando uma estratégia de concentrar suas atividades nos mercados em que possuía participação superior a 10%. A decisão implicou em vendas no Peru (2002), Bolívia (2006), Venezuela (2009) e Colômbia (2011).

Recentemente, a matriz espanhola também estabeleceu um programa voluntário de recompra de ações no Brasil. A operação foi aprovada pela CVM e os papéis do Santander no país deverão ser trocados por ações do grupo na Espanha, caso os acionistas minoritários aceitem a oferta.

Apesar dos problemas enfrentados, o processo de expansão global fez com que o banco passasse a prestar serviços a 107 milhões de clientes, atendidos em mais de 13 mil agências por 185 mil funcionários.

SUCESSÃO

Com a sua morte por ataque cardíaco nesta terça-feira (9), o Grupo Santander deverá decidir o seu sucessor em reunião nesta quarta (10).

O conselho de administração e a comissão de nomeações e retribuições irão, em conjunto, designar o novo presidente global do banco. Analistas e investidores esperam que o cargo seja assumido pela filha mais velha do executivo, Ana Botín, que hoje lidera o negócio britânico do Santander.


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