Folha de S. Paulo


Exportação de serviços é ofuscada por importações

O crescimento da economia brasileira na última década foi acompanhado de um forte aumento da importação de serviços, que quintuplicou entre 2004 e 2013, atingindo US$ 86,3 bilhões.

Essa conta inclui desde gastos de brasileiros no exterior -uma das principais causas do avanço- até fretamento de navios para transportar bens exportados pelo país, aluguel de equipamentos e pagamento de royalties.

Já as exportações de serviços triplicaram no período, atingindo US$ 39,1 bilhões.

Editoria de Arte/Folhapress

O ritmo mais acelerado de expansão das importações levou a uma significativa deterioração do deficit da balança de serviços, que é um dos maiores entre grandes países emergentes e desenvolvidos.

Segundo cálculo do economista Jorge Arbache, a economia se tornou tão dependente da compra de serviços de fora que cada 1% de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) vem acompanhado de um aumento de 1,25% das importações, superior ao de crescimento de 1,11% das exportações.

Isso significa que, à medida que a economia crescer, o deficit aumentará.

Por sua vez, "a expansão desse deficit constrange o crescimento da economia", diz Arbache, professor da Universidade de Brasília.

Deficit na balança de serviços não é necessariamente ruim, segundo especialistas. Se os serviços importados contribuírem para a produção de bens ou desenvolvimento de outros serviços de valor agregado alto, a tendência poderá ser positiva.

O problema, segundo estudo recente de Arbache, é que, no caso do Brasil, o aumento do deficit se deve, em grande parte, ao boom de gastos de turistas brasileiros no exterior. Esse crescimento ocorreu na esteira da valorização do real nos últimos anos.

Outra fatia do aumento das importações se concentrou no aluguel de equipamentos no setor de óleo e gás.

São serviços importantes, diz Arbache, para impulsionar a produção de petróleo do país. Mas, ressalta, como o preço do petróleo é fixado no mercado internacional, o valor agregado dessas importações não é muito elevado.

"O ideal é que parte mais expressiva das importações de serviços gerasse renda proporcionalmente maior do que a dívida feita para sua aquisição no exterior", diz.

Além disso, segundo especialistas, embora tenha crescido nos últimos anos, o valor dos serviços exportados pelo país ainda é pequeno. Equivale a 16% do total dos bens vendidos pelo país fora.

Entre os serviços exportados pelo país, sobressaem os de engenharia e arquitetura, reflexo da atuação da construção civil no exterior.

Mas, de forma geral, segundo o economista Fernando Ribeiro, o Brasil não se destaca na exportação de serviços sofisticados. "Os serviços que geram maior receita são intensivos em conhecimento e mão de obra muito qualificada", diz Ribeiro, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Para avançar no seu desenvolvimento, é preciso aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento e melhorar a educação no país.

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