Folha de S. Paulo


Varejo sente impacto de freada no consumo

A freada no consumo começou com as vendas de carros, contaminou o setor de eletrodomésticos e já bate no carrinho do supermercado.

Com a mudança de comportamento das famílias, economistas e varejo já se perguntam se terminou o ciclo de consumo que sustentou o o país nos últimos dez anos.

O período coincidiu com a entrada de 40 milhões de pessoas no mercado consumidor e com o maior ciclo de expansão do crédito, que crescia em média 15% ao ano e complementava a renda dos salários.

Desde 2009, há sinais de esgotamento do modelo. O governo foi obrigado a conceder incentivos fiscais, como redução do IPI, para manter a vendas. Mesmo assim, a comercialização de carros e motos desabou 19% entre junho deste ano e de 2013.

A de móveis e eletrodomésticos ficou parada (0,1%). A de roupas e calçados encolheu 2,5%, segundo o IBGE.

Editoria de Arte/Folhapress

O crédito desacelera há sete meses e deve crescer menos que 10% pela primeira vez desde 2004. Para reverter o quadro, o governo adotou medidas de estímulo para que os bancos emprestem mais. O consumidor, porém, continua de mãos no bolso.

"No primeiro semestre, ficou evidente que o ciclo de expansão virtuosa do consumo brasileiro está esgotado. Consumo e crédito tiveram forte desaceleração", diz Nicola Tingas, economista da Acrefi, que reúne instituições de crédito e financeiras.

Para Luis Stuhlberger, gestor do Credit Suisse, a estagnação na venda de carros é o aspecto mais visível da saturação do consumo, que ocorre sobretudo nas grandes cidades e que poderá aparecer em outros segmentos.

"Além de fatores conjunturais, há aspectos como trânsito, dificuldade e preço para estacionar, cujo impacto é desconhecido."

Há dúvidas sobre a intensidade da freada na venda de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis. Nuno Fouto, pesquisador do Provar, programa de varejo da FIA (Fundação Instituto de Administração da USP), lembra que muita gente adiantou a compra de geladeiras, máquinas de lavar e móveis para aproveitar o IPI menor. "Quem comprou geladeira não precisa de outra logo depois."

Com orçamento enxuto, dívidas e preocupado com seu emprego, o brasileiro está desestimulado a comprar.

"Houve desaceleração generalizada em junho, efeito da Copa e da menor quantidade de dias úteis, que afetou o resultado do varejo. Mas o problema é o nível de confiança do consumidor. Quanto menor a confiança do consumidor, menor sua propensão a consumir", diz Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo). Em agosto, o índice de confiança chegou ao pior nível desde 2009.

O reflexo chega às compras do dia a dia. Pela primeira vez desde 2011, o consumidor reduziu o volume médio de compras no segundo trimestre, segundo dados da consultoria Kantar Worldpanel, especializada em consumo.

Todas as faixas de renda racionalizaram o consumo, diz Christine Pereira, diretora da consultoria no Brasil. "O volume médio de compra caiu 2,3%. Vai-se menos aos ponto de venda, e produtos já perdem espaço nos lares."

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